Correio Braziliense, n. 21165, 06/05/2021. Política, p. 2

Bolsonaro critica China; presidente da CPI reprova
Ingrid Soares
Jorge Vasconcellos


O presidente Jair Bolsonaro voltou ao ataque contra a China. O mandatário insinuou que o país pode ter criado o novo coronavírus em laboratório como arma para uma "guerra química". "É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou se nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica", frisou. "Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual é o país que mais cresceu o seu PIB (Produto Interno Bruto)? Não vou dizer para vocês." Apesar de o chefe do Planalto não ter citado o nome da China, o país asiático foi o único no mundo a crescer em 2020, com aumento de 2,3% no PIB.

Os repetidos ataques de integrantes do governo têm potencial para provocar atritos contra um dos principais parceiros comerciais do Brasil e interferir, por exemplo, na importação do ingrediente farmacêutico ativo (IFA), necessário para a produção de doses da vacina CoronaVac no país.

Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a China "inventou" o novo coronavírus e, ainda assim, produziu uma vacina "menos eficiente" contra a doença do que o imunizante desenvolvido nos Estados Unidos. No dia seguinte, fez uma retratação pública sobre a declaração, e sobrou para o ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, contatar a embaixada chinesa para desfazer o que Guedes chamou de "mal-entendido".

Resposta

O ataque de Bolsonaro à China foi reprovado pelo presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM). O parlamentar afirmou que as dificuldades do Brasil para ter acesso a insumos destinados à fabricação de vacinas contra a covid-19 poderão se agravar em razão das declarações do chefe do Planalto.

"Eu acho que a situação nossa em relação a ter insumos vai piorar com essa declaração hoje (ontem). Foi ruim chamar de guerra química e tal. Nós estamos na mão dos chineses para trazer o IFA. Não temos condição de IFA aqui nem vamos ter tão cedo. A gente depende da Índia para alguns insumos, depende da China para outros. Então, acho que este não é o momento de cutucar ninguém", criticou.

Após a repercussão das declarações, Bolsonaro negou que tenha criticado o país asiático. "Eu falei a palavra China hoje de manhã? Não falei. Eu sei o que é guerra bacteriológica, química, nuclear. Eu sei porque tenho informação, e só falei isso, mais nada", ressaltou. "Ninguém fala. Vocês da imprensa não falam onde nasceu o vírus. Falem, ou estão temendo alguma coisa? Eu não falei a palavra China. Muita maldade tentar aí um atrito com um país que é muito importante para nós, e nós somos importantes pra eles também."