Correio Braziliense, n. 21174, 15/05/2021. Política, p. 4

Voto impresso é um retrocesso
Sarah Teófilo


O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, classificou como um "retrocesso" a inserção do voto impresso no processo eleitoral, durante o lançamento de uma campanha comemorativa, ontem, dos 25 anos de urnas eletrônicas. Na última quinta-feira, foi instalada a comissão especial que analisará a proposta de emenda constitucional que institui o comprovante do voto, de autoria da deputada Bia Kicis (PSL-DF). Há tempos o presidente Jair Bolsonaro faz campanha pelo voto impresso e chegou a dizer, nos Estados Unidos, que teria vencido a corrida presidencial de 2018 no primeiro turno se não fossem as fraudes, e que teria prova disso — porém jamais a apresentou.

"Voto impresso será inútil para quem queira fazer um discurso de fraude, porque nos Estados Unidos, que são o espelho, havia voto impresso, e boa parte das pessoas que defende o voto impresso no Brasil disse que a votação (que derrotou Donald Trump e elegeu Joe Biden) foi fraudada. Portanto, vai ser um custo, um risco e uma inutilidade, porque vão continuar achando a mesma coisa", disse o ministro, ao ser questionado pela imprensa.

Indagado pelo Correio sobre a viabilidade de um voto impresso e o que ele prevê para o processo eleitoral de 2022, caso o Congresso aprove a PEC, Barroso disse que há vários pontos "inconvenientes" e que trariam problema. O primeiro, é o custo que, segundo ele, antes da pandemia, estava estimado em aproximadamente R$ 2 bilhões para a introdução.

Além disso, o ministro deixou claro, ao avaliar os perigos do voto impresso — dos quais o principal seria a quebra do sigilo da escolha do eleitor —, o Supremo Tribunal Federal (STF) já declarou a medida inconstitucional. "É preciso lembrar que esse é um país em que até o painel secreto do Senado foi violado numa votação", alertou.

Sistema pior

Para Barroso, a impressão do voto piora o sistema. Ele lembrou que, em 2002, houve uma tentativa de imprimir o registro da escolha do eleitor em cerca de 6% das urnas, em todo o país, e não funcionou — houve filas, atrasos, aumento do número de votos brancos e nulos e problemas com as impressoras. O presidente do TSE também ressaltou o receio de judicialização das eleições.

"Seria inútil relativamente ao discurso da fraude, porque esse é um discurso político", salientou.

O ministro anunciou que o TSE constituirá uma comissão externa de observação de cada passo do processo eleitoral. O objetivo é aumentar a transparência e levar mais informações à população. "A urna tem se mostrado tão segura que as desconfianças sobre ela decorrem de desinformação. Não temos nada a esconder. Aqui se joga limpo", assegurou.