Título: Difícil de Engolir
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Fonte: Jornal do Brasil, 23/04/2005, Brasília / Opinião, p. D2

O projeto de reforma sindical que já tramita no Congresso está recebendo crescentes críticas, inclusive da área que pretende modernizar. Em Brasília, encontra resistência de sindicatos, como o Sindilegis, e até de partidos da base governista, como o PTB. Ao se delinear o projeto, seus patrocinadores deram grande ênfase a algo que parecia mesmo positivo: o fim do imposto sindical compulsório, aquela mordida correspondente a um dia de trabalho ao ano, de que nenhum trabalhador consegue escapar. Realmente, se a reforma for aprovada como está, o imposto sindical some. Só que será substituído por uma nova taxa, batizada com o estranho nome de contribuição de negociação coletiva. Troca-se uma mordida por outra. Maior.

Hoje, o montante da contribuição anual é definida por lei, até 3,3% de um salário. Com as mudanças, calculam os especialistas, o teto de cobrança pode atingir 15% de um salário. Além disso, a contribuição social, hoje optativa, passa a ser obrigatória.

É verdade que a tal contribuição de negociação coletiva precisa ser aprovada, a cada ano, em assembléia dos trabalhadores, sindicalizados ou não. Hipocritamente, caciques sindicais colocam essa exigência como uma vitória, argumentando que a decisão ficaria nas mãos da própria categoria - como se alguém imaginasse que a assembléia não acabará fazendo o que as cúpulas sindicais decidirem, ainda mais em um caso como esse, de encher os cofres. E, uma vez aprovada a taxa para aquele ano, sua cobrança não comportará oposição.

Existem cálculos sobre o que isso representará para o caixa dos sindicatos. Estima-se que as entidades sindicais brasileiras verão sua arrecadação crescer três vezes e meia. Tudo com o dinheiro dos trabalhadores que eles supostamente representam. De qualquer forma, será difícil para os trabalhadores engolirem mais essa cobrança e a considerarem legítima.