Título: Não há competição, avalia FMI
Autor: Marcelo Kischinhevsky
Fonte: Jornal do Brasil, 27/04/2005, País, p. A3

Levantar o ''traseiro da cadeira'' para buscar crédito mais barato, como sugere o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tem pouco resultado prático além do gasto extra na sola do sapato. Os bancos, no Brasil, competem pouco entre si e optam pela comodidade de emprestar ao próprio governo, a juros que não têm paralelo no mundo e são, em média, seis vezes superiores aos praticados nos demais países em desenvolvimento. A avaliação é de uma pesquisadora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Agnès Belaisch. O estudo, intitulado Do Brazilian banks compete? (''Os bancos brasileiros concorrem?''), divulgado há dois anos e contestado com veemência pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), revela que as instituições financeiras nacionais emprestam proporcionalmente pouco devido às altas taxas pagas pelo governo para rolar a dívida pública. Agnès vai além: para ela, os bancos brasileiros atuam como um oligopólio e, assim, sustentam os juros nas alturas.

Os ativos dos bancos brasileiros equivaliam, na ocasião, a 77,1% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas geradas no país), nível praticamente idêntico ao verificado nos Estados Unidos - 77,3%. Os empréstimos a pessoas físicas e empresas, no entanto, somavam apenas 24,8% do PIB, contra 45,3% nos EUA. A diferença, de 41,2% do PIB, vai para o financiamento da dívida do setor público. Para se ter uma idéia da disparidade, em outros países latino-americanos essa relação varia de 5% (México) a 16,7% (Chile).

''O cenário que surge no Brasil é de um sistema financeiro no qual o papel tradicional dos bancos como intermediários da poupança nacional, em que coletam depósitos para estender o crédito, não predomina. Os bancos têm papel significativo no mercado de capitais, onde investem em títulos que são sua principal fonte de negócios'', diz o estudo.

Nos últimos dois anos, o governo vem comemorando o aumento do volume de crédito na economia, mas o índice de 26,7% do PIB, em fevereiro último, ainda é pequeno na comparação com nações desenvolvidas e mais compatível com países de sistemas bancários diminutos, como Argentina.