Título: EUA serão duros com Caracas
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/04/2005, Internacional, p. A7

O jornal The New York Times publicou ontem que Washington estuda ter posição mais dura em relação ao presidente venezuelano Hugo Chávez, depois de concluir que é impossível manter uma relação pragmática com ele. Um funcionário do Congresso, que lida com a elaboração de políticas para a América Latina, revelou ao NYT que um grupo de trabalho, integrado por agências governamentais, pesquisa uma nova estratégia, de linha mais dura. Entre as medidas, está mais apoio à oposição em Caracas e um pedido para que os vizinhos se distanciem . O pontapé inicial estaria sendo dado por Condoleezza Rice, que chegou ontem ao Brasil e vai ainda para a Colômbia, Chile e El Salvador.

No ano que vem, o populista líder de esquerda pode ser reeleito na presidência, para um novo mandato de seis anos.

- As relações com Chávez estão se deteriorando e vamos precisar dar mais atenção a isso - confirmou o funcionário.

Venezuela e EUA mantêm relações conflituosas desde a chegada de Chávez ao poder, em 1999. O venezuelano acusou militares credenciados em Caracas de envolvimento na tentativa de golpe de Estado que o afastou do poder por 48 horas em 2002. Além disso, encerrou, no domingo, um programa militar conjunto com os EUA que já durava 35 anos, estabeleceu acordos energéticos com a China, se reuniu com o presidente iraniano Mohamed Khatami e criou uma milícia para defender a Venezuela de agressões externas.

- A conclusão, a cada dia mais aceita em Washington, é a de que a relação com a Venezuela não parece mais ser realista, na qual um dos lados pode discordar mas há progresso em outras questões - afirmou a fonte. - Oferecemos uma relação pragmática. Mas se o governo venezuelano não a aceita, podemos ir em direção a uma aproximação confrontante. A política de olhar para o outro lado não está funcionando.

Outro fator de descontentamento na Casa Branca seria o abandono do plano antinarcóticos de Caracas e os ''mínimos'' encontros bilaterais. Chávez, por sua vez, acusou os EUA de tramarem sua morte para controlar o petróleo da Venezuela, quinto exportador mundial e o quarto maior fornecedor americano.

- Não podemos abrir mão deste recurso. E Chávez está sentado sobre uma fonte de energia que é crítica para nós - afirmou o republicano assistente do Capitólio.

Segundo destacou ontem o vice-presidente venezuelano, José Vicente Rangel, a relação com os EUA é ''impecável'' em matéria de fornecimento de petróleo, luta contra as drogas e contra o terrorismo. Mas quem telefona para o Ministério do Petróleo ouve uma desafiante mensagem gravada pelo próprio Chávez, sobre a estratégia no assunto ''energia'': ''Qual é o motivo da agressão imperialista contra nosso país? A Venezuela tem a maior reserva e o petróleo do mundo está acabando''.

Aparentemente alheio ao aumento da tensão com os EUA, o presidente venezuelano viaja amanhã para Cuba, para estreitar laços comerciais, políticos e na área de saúde com a ilha. Na conversa que terá com Fidel Castro, vai tratar das ameaças de Washington a Caracas. Os dois também vão discutir a Alternativa Bolivariana das Américas (Alba), idéia da Venezuela em contrapartida à Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

Antes de seguir para Cuba, Chávez havia se encontrado com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que retornou a Brasília a tempo de um encontro reservado com Condoleezza Rice. A reunião entre Dirceu e Chávez foi definida como uma ''conversa franca e aberta'', mas o assessor da Presidência, Marco Aurélio Garcia, disse que a viagem era prevista.

- O Brasil não é intermediário de nada. Essa viagem já estava marcada há mais de um mês. Temos 26 acordos com a Venezuela, portanto, é mais do que normal - disse. A ida de Dirceu não foi publicada no Diário Oficial da União antes do embarque, como é praxe.