Título: Venezuela vira pomo da discórdia
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/04/2005, Internacional, p. A7

Secretária de Estado dos EUA e chanceler brasileiro não escondem divergências sobre a forma de lidar com Hugo Chávez

BRASÍLIA - A secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, disse ontem que ''os problemas políticos, econômicos e sociais dos países da região tornam as democracias frágeis''. Foi a resposta sobre questões em torno da instabilidade na América do Sul, com crises no Equador, na Venezuela e na Bolívia, feitas por jornalistas em uma pequena coletiva de imprensa após uma reunião de trabalho no Ministério das Relações Exteriores.

Apesar dos esforços entre Condoleezza e o ministro Celso Amorim para demonstrar convergências, ficou evidente que a Venezuela - um dos principais adversários dos EUA - é um ponto dissonante. Enquanto Amorim reforçava a democracia formal do governo Chávez, a secretária dizia que eleições não bastam para caracterizar democracia.

- Democracia não é só eleição - disse ela. Segundo Condoleezza, ''inclui a promoção da boa governança, acesso à educação e oportunidades para todos''.

- Um processo democrático não se faz com soluções fáceis que parecem boas, mas não são baseadas na realidade econômica. Todos queremos uma Venezuela livre e democrática - afirmou, citando a carta da Organização dos Estados Americanos (OEA), como base institucional. Rice também afirmou que o Brasil emerge, nesse contexto, como ''uma potência regional''.

Por outro lado, Amorim minimizou o tema e as preocupações com Caracas.

- Como em qualquer outra democracia, há problemas - afirmou, destacando várias vezes a soberania do país. - Somos amigos da Venezuela e do povo venezuelano e temos interesse que o país se desenvolva de maneira harmônica.

A questão venezuelana é uma das mais polêmicas de toda a América Latina e, obviamente, tema importante da agenda de Condoleezza no Brasil. Entretanto, nem ela nem Amorim trataram espontaneamente do assunto na introdução da entrevista coletiva concedida à tarde no Itamaraty, depois de um encontro de trabalho.

Ao contrário, não citaram a Venezuela, que acabou sendo o centro da primeira pergunta dos jornalistas, aliás, de um jornalista estrangeiro. Amorim, mais uma vez, amenizou:

- Não queremos fazer da Venezuela nosso único assunto - admitiu. Essa, porém, foi a principal curiosidade dos jornalistas tanto da imprensa estrangeira quanto da nacional.

Um dado para esquentar o tema foi a ida do chefe da Casa Civil, José Dirceu, para uma conversa com Chávez em Caracas na véspera da chegada de Rice. Amorim e Condoleezza conversaram também sobre a vinda do presidente George Bush ao Brasil. Não fecharam data, mas o provável é que seja em novembro.

Amorim e Condoleezza disseram ter falado também sobre a crise no Equador, que levou à destituição do presidente Lucio Gutiérrez, asilado no Brasil. Segundo eles, os dois países se comprometeram a ''acompanhar o desenvolvimento dos acontecimentos no país e a trabalhar para que Quito retome o caminho da democracia''. Rice não repetiu a defesa de novas eleições, como já fizera logo depois da queda.

Com Folhapress)