O Estado de S. Paulo, n. 46580, 29/04/2021. Metrópole, p. A17

Butantan já produz sua vacina; Anvisa cobra documentos

João Ker


O governo de São Paulo anunciou ter começado ontem a produzir o primeiro lote de 1 milhão de doses da Butanvac, vacina contra o coronavírus desenvolvida pelo Instituto Butantan. A notícia foi dada na coletiva do dia – e o governador João Doria (PSDB) acrescentou que a expectativa é de que 18 milhões de doses estejam disponíveis ainda na primeira quinzena de junho e prontas para a distribuição – a depender do aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – para os testes com o imunizante e os resultados dos ensaios clínicos. A agência federal, no entanto, já cobrou mais documentos do órgão paulista para liberar os estudos clínicos em humanos.

Dimas Covas, presidente do Butantan, afirmou que a capacidade de produção pode chegar a até 40 milhões de doses da Butanvac no segundo semestre deste ano, além das outras 18 milhões previstas para até 15 de junho. “Não dependemos em nada de importação e de licenciamento. Somos totalmente independentes. Poderemos atender o Brasil e até parte do mundo”, declarou.

Na terça-feira, a Anvisa solicitou ao Instituto Butantan dados adicionais para avaliar a aprovação da Butanvac. Em nota, o Butantan disse que “manterá contato com o órgão regulador para viabilizar os esclarecimentos necessários ao seguimento do processo de autorização dos estudos clínicos de fases 1 e 2 da Butanvac”.

‘Senso de urgência’. Durante a coletiva, Doria pediu “senso de urgência” à Anvisa. “Menos burocracia e mais solidariedade”, enfatizou o governador, dizendo que a produção da vacina pode chegar a até 100 milhões de doses até o fim do ano, a depender do aval para os testes.

Covas foi aos detalhes. “O que queremos da Anvisa é urgência nas suas exigências. O processo original foi submetido em 26 de março. Muitas das questões que vieram são relativas a processo produtivo e não ao estudo clínico, per se, portanto já poderiam ter sido solicitadas”, afirmou ele. “Queremos agilidade. Que ela faça as perguntas que tem de fazer no menor prazo possível. Para isso eles são contratados.”

Nesta semana, a Anvisa negou aval para importação de doses da vacina russa Sputnik V por dez Estados, o que motivou críticas de governadores. Cientistas, em contrapartida, elogiaram a posição da agência sanitária, que apontou falta de dados básicos e problemas nos estudos clínicos e no processo produtivo que impedem garantir eficácia, segurança e qualidade.

Doria reforçou que, caso seja aprovada pela Anvisa, a Butanvac estará disponível para compra pelo Ministério da Saúde. “Levamos mais de três meses para convencer o ministério de que era importante ter a vacina do Butantan disponível para os brasileiros”, frisou. O Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) informou ao Estadão que o órgão ainda não recebeu o pedido de estudos da Butanvac.

A Butanvac é produzida com base no cultivo de cepas do vírus Sars-cov-2 em ovos de galinha embrionados. Nesta quarta, o governo afirmou ter um lote inicial com 520 mil ovos. Segundo Covas, serão entregues 30 lotes com esse quantitativo até o fim do ano. O primeiro lote será entregue no próximo dia 18; o segundo, em 1.º de junho; e o terceiro, em 15 de junho.

Coronavac. O Butantan também antecipou para esta sextafeira a entrega do lote de 600 mil doses da Coronavac, prevista inicialmente para 3 de maio. Dimas Covas afirmou ter pedido à Sinovac que aumentasse o volume do próximo carregamento de 3 para 6 mil litros, para produzir mais 10 milhões de vacinas. E também alertou que a segunda dose da vacina deve ser aplicada mesmo depois do prazo inicial de 28 dias.

Vacinas

40 milhões

de doses é quanto o Butantan pode produzir da Butanvac, no 2º semestre, segundo Covas.

600 mil

doses da Coronovac devem ser entregues amanhã pelo instituto.