Título: Relatório do Pentágono é 'uma bofetada'
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/04/2005, Internacional, p. A8

Termo que exime de culpa americanos que mataram agente indigna jornalista

ROMA - A jornalista Giuliana Sgrena, ferida em março em um ataque de soldados americanos no Iraque, no qual morreu o agente da espionagem italiana Nicola Calipari, afirmou que o relatório do Pentágono que exime de culpa as tropas dos Estados Unidos envolvidas no caso é ''uma bofetada''.

- A conclusão deste relatório é incrível e inaceitável para o governo italiano, a culpa do que aconteceu é colocada em Calipari - denuncia a repórter em declarações na primeira página do jornal La Repubblica.

Segundo Washington, os soldados atuaram conforme os regulamentos quando atiraram contra o veículo em que estavam a repórter - recém-liberada após um mês de seqüestro - e dois agentes secretos italianos, causando a morte de Calipari. Embora o documento definitivo ainda não tenha sido divulgado, parte de suas conclusões foram adiantadas por meios de comunicação italianos e por fontes ligadas à investigação.

Para Sgrena, o fato de que o texto exime os americanos supõe um resultado ''pior do que se poderia imaginar''.

- No começo os americanos falavam de incidente, até pediram desculpas, e agora se excluem de toda responsabilidade, dizem só que as regras militares foram seguidas - protesta a jornalista. Sgrena acrescenta que, ''se é seguir as regras militares atirar em um carro que passa e tinha avisado que o faria, é preciso perguntar-se como são de verdade estas regras''.

De acordo com os militares, o veículo de Sgrena estava em alta velocidade e não respondeu aos sinais para que parasse. Segundo o depoimento da repórter e de um dos seguranças, o carro ia devagar e não houve ''qualquer tipo de aviso''.

Tanto Washington quanto Roma admitiram que foi um caso de ''fogo amigo'', embora, segundo a imprensa, algumas autoridades italianas discordem das conclusões do relatório elaborado pela comissão mista que investigou o caso. O ponto nevrálgico - que estaria atrasando a assinatura por parte de Roma no documento - é justamente a definição da velocidade do veículo. A pressão dos EUA para encerrar o incidente teria levado, inclusive, dois integrantes italianos da comissão a pedirem seu afastamento.

A procuradoria-geral italiana também abriu inquérito para esclarecer o ocorrido.

- É importante que a magistratura siga adiante, mas tudo faz supor que não será fácil - afirmou Sgrena, que pede além disso ''a pressão da opinião pública'' para que os EUA admitam sua responsabilidade.