Correio Braziliense, n. 21175, 16/05/2021. Economia, p. 8

Inflação é entrave à retomada econômica
Rosana Hessel


No mercado brasileiro, a inflação não dá sinais de trégua e poderá ser um entrave para a retomada da economia, de acordo com os especialistas. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 6,76% nos 12 meses encerrados em abril, acima do teto da meta de inflação deste ano, de 5,25%. Mas analistas lembram que os indicadores de preços ao produtor continuam rodando na casa de dois dígitos devido ao boom do preço das commodities e do dólar valorizado. Esse custo adicional deverá ser repassado, em algum momento, se a economia continuar dando sinais de recuperação, apesar de lenta, para o consumidor.

O economista André Braz, coordenador do Índice de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), reconhece que, além da questão interna, a inflação no Brasil ganha ainda um impulso com o mundo crescendo mais rápido, o que será um desafio adicional para o Banco Central, porque, se ele subir muito, a taxa básica de juros (Selic) poderá atrapalhar o processo de retomada da economia.

"A economia global mais aquecida ajudará a sustentar a inflação daqui. O BC precisa pensar em uma alta mais lenta da Selic e, quem sabe, porque os juros mais altos serão uma pedra no caminho da recuperação", alerta. Para ele, o governo poderá ter que elevar alguns impostos de importação para tentar contribuir com o ajuste da política monetária.

A economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, torce para que esse impulso inflacionário global seja temporário. Contudo, admite que, no Brasil, os riscos são maiores. "Os bancos centrais devem esperar um pouco mais para agirem, mas, no Brasil, a situação é um pouco diferente, porque existe o câmbio mais valorizado devido aos riscos fiscais elevados, que ajudam a manter a inflação mais forte", afirma.

Insustentável

O aumento das pressões inflacionárias no Brasil devido ao aquecimento global também é uma preocupação do economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani, que evitou corrigir para cima sua previsão de 3,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e aposta em uma Selic de 6,5% no fim do ano, acima da taxa de 5,5% sinalizada pelo Banco Central na ata do Comitê de Política Monetária (Copom). "O BC vai ser novamente surpreendido com a inflação mais resistente, porque uma Selic de 5,5% não será suficiente para a inflação convergir para a meta em 2022, de 3,5%. Estamos vivendo uma época muito incerta", afirma.

Assim como Padovani, o economista Otaviano Canuto, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, avalia que, apesar da melhora das previsões do mercado, indicando crescimento em torno de 4% neste ano, essa taxa não é sustentável porque a evolução do PIB brasileiro "continuará amarrada a longo prazo". "O país precisa encontrar um aumento sistemático na produtividade", complementa. Estimativas do Itaú Unibanco e da MB Associados, por exemplo, preveem o PIB crescendo a 1,8% em 2022, abaixo do PIB potencial, de 2%.