Título: Espiões atingiram multinacionais
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 27/04/2005, Economia & Negócios, p. A23

Relatório revela que Daniel Dantas tinha acesso a conversas de empresários e amigos que ligavam para investigados

O esquema de espionagem patrocinado pelo banqueiro Daniel Dantas teve acesso a conversas telefônicas de representantes de várias empresas brasileiras e multinacionais. É o que revelam relatórios de escuta telefônica ilegal feita pelo escritório do israelense Avner Shemesh, que espionou desafetos de Dantas após desbaratada o esquema da Kroll Associates.

Nas interceptações telefônicas, os espiões acabaram tendo acesso a escutas de empresários e funcionários que ligavam para os espionados. Há pelo menos uma dezena de exemplos de quebra de sigilo ''por tabela'' de outras empresas nos relatórios produzidos por Shemesh. Em um destes relatórios, o israelense detalha todos os telefonemas feitos para a empresa de Luiz Roberto Demarco, ex-sócio e desafeto de Dantas.

Uma das ligações para a empresa de Demarco foi feita por um representante da Epson, fabricante de impressoras. Outra foi de uma representante da LG, empresa que fabrica celulares. O relatório de Shemesh traz até o conteúdo das gravações. Em uma conversa da representante da LG com funcionários de Demarco, o assunto foi ''orçamento''.

Outros conteúdos de conversas de representantes de empresas são detalhados nos relatórios de Shemesh. O dono da companhia de artigos de festa Procol, Silvano Arari, telefonou para o escritório de Demarco em dezembro pedindo ajuda para o funcionamento de sua loja virtual. O relatório diz que houve problemas com pagamento no cartão de débito do Bradesco. Silvano confirma ter telefonado para resolver o problema e diz ter ficado muito assustado ao saber que seu nome consta de um relatório de espião.

- Eu acho isso péssimo, um absurdo. Acho o fim da picada. Não consigo me conformar ainda - afirmou Silvano.

Um funcionário da empresa Mega, que representa companhias de distribuição de brindes, telefonou para o escritório de Demarco, também em dezembro. O relatório de Shemesh detalha que o funcionário Jefferson de Azevedo, da Mega, estava com problema de acesso a banco de dados. Procurado ontem, Jefferson afirmou que não consegue entender a inclusão de sua conversa em relatório de espionagem ilegal.

- Nem sei do que você está falando. É uma história sem pé nem cabeça. Talvez seja a época em que meu telefone foi clonado - reagiu Jefferson.

O relatório produzido por Shemesh detalha ainda dois telefonemas da Loja Siciliano, de Campinas, e da empresa Data Byte para funcionários de Demarco.

O israelense gravou ainda conversas reservadas de profissionais liberais. Uma das ligações foi entre uma pessoa de nome Boldrini, que seria corretor de imóveis, com uma funcionária de Demarco.

Shemesh era contactado pelo banqueiro Carlos Rodenburg, ex-cunhado e sócio de Daniel Dantas. Rodenburg foi filmado em abril entrando no escritório de Shemesh. Os relatórios do espião israelense incluem detalhes da vida empresarial e pessoal dos investigados. Shemesh levantou todas as relações empresariais de Demarco com a Brasil Telecom, o Fundo de Previdência do Banco do Brasil e outras empresas. Shemesh ainda possuía dados sobre número de carros do investigado e até levantamentos sobre antecedentes criminais.