Correio Braziliense, n. 21177, 18/05/2021. Política, p. 4

Moro defende diálogos da Lava-Jato vazados


O ex-ministro da Justiça Sergio Moro prestou novo depoimento, ontem, no processo aberto a partir das investigações da Operação Spoofing, que mirou a ação de hackers para a invasão e roubo de mensagens de celulares de autoridades, incluindo procuradores da força-tarefa da Lava-Jato. Quando ainda era juiz federal responsável pelos casos relacionados à Operação, ele foi um dos alvos do ataque cibernético e teve conversas vazadas.

"Tudo foi feito conforme a interpretação da lei. Todas essas mensagens foram utilizadas de uma maneira sensacionalista para buscar interromper investigações contra crimes de corrupção e anular condenações", disse Moro, por videoconferência, ao juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília. As mensagens foram exploradas no processo movido pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva para declarar o ex-juiz suspeito no processo do triplex do Guarujá.

No interrogatório, Moro voltou a negar interferência na investigação do ataque hacker enquanto ocupou o Ministério da Justiça, no governo Bolsonaro. O inquérito foi aberto a partir de uma comunicação do então ministro, quando percebeu que o celular havia sido invadido.

"Diversas autoridades públicas começaram a informar que também estavam sendo atacadas, como o presidente da Câmara, alguns deputados federais, acho que até ministros do Poder Judiciário. Isso gerou uma questão de Segurança Nacional, demandou um acompanhamento mais próximo do ministro da Justiça, mas sem jamais afetar a autonomia", assegurou. Ele também reafirmou que jamais houve qualquer determinação administrativa para que o material colhido com os hackers, quando foram presos pela PF, fosse destruído.

A ex-deputada e ex-candidata à vice-presidente Manuela D'Ávila (PCdoB) também prestou depoimento. Ela foi procurada por um dos hackers e intermediou a conversa dele com o jornalista Glenn Greenwald, então no portal The Intercept Brasil — que revelou o material na série de reportagens conhecida como Vaza-Jato. A oitiva girou novamente em torno do contato feito por Walter Delgatti Netto, o Vermelho, apontado como chefe do ataque cibernético.

Em julho do ano passado, Moro e Manuela haviam sido ouvidos como testemunhas no mesmo processo. No entanto, um recurso da Defensoria Pública da União anulou as oitivas, que precisaram ser refeitas.