Título: Severino volta a atacar
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 28/04/2005, País, p. A3

Com o apoio de Alencar, deputado quer retirar do Copom competência de fixar juros e acusa governo de usar métodos da ditadura

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) voltou a abrir fogo contra o governo Lula. Em uma tacada só, durante reunião com líderes partidários, propôs o fim da autonomia e exclusividade do Comitê de Política Monetária (Copom) para definir a taxa de juros Selic e comparou o Planalto à ditadura militar, ao soterrar o Congresso com excessivas medidas provisórias. - Conto com o apoio dos senhores líderes nesta cruzada - conclamou Severino.

Deputados de diversos partidos - a maior parte deles integrantes do baixo clero - ouviram Severino ler uma nota rechaçando as altas taxas de juros que ''vêm sendo draconianamente impostas à sociedade brasileira''. Ele apontou, inclusive, o principal culpado pela situação: o Comitê de Política Monetária (Copom).

- Pretendo criar uma comissão para, se possível for, retirar do Copom a competência de, isoladamente, conceber o aumento da taxa de juros - anunciou. Pouco depois, o vice-presidente José Alencar, famoso por atacar os juros, apoiou a proposta de Severino e foi mais além, contrariando inclusive o presidente Lula, que no dia anterior disse que, apesar das altas taxas, o país continua crescendo.

Alencar propôs que outros integrantes, além dos diretores do Banco Central, participem das reuniões que definem a taxa básica de juros mensalmente.

-As taxas altas inibem os investimentos e o consumo. A taxa poderia ser o dobro do que é hoje sem conseguir combater os preços administrados (energia,água, transportes) e a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Eu concordo sim com o presidente Severino - declarou Alencar.

As altas recentes dos juros são justificadas pelo BC com a necessidade de conter pressões inflacionárias.

Para Severino, as coisas não podem continuar do jeito que estão. Empolgado com a própria idéia, sugeriu que, enquanto a comissão não se instalar e produzir algum relatório sobre a matéria, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, seja obrigado a comparecer ao Senado e à Câmara para justificar as decisões do Banco Central, principalmente quando houver aumento na taxa de juros .

Ao protestar contra o excesso de medidas provisórias, que trancam a pauta de votações da Casa - são dez atualmente -, Severino foi duro. Afirmou que, desde a sua posse, em 15 de fevereiro, 62% das 30 sessões deliberativas não tiveram votações porque a pauta estava trancada pelo excessivo número de MPs.

- Falta muito pouco para isso se igualar aos sombrios tempos do regime militar - denunciou Severino.

O presidente da Câmara lembrou que os militares usavam e abusavam do decreto-lei, aprovado na maioria das vezes por decurso de prazo, estimulando a ausência dos parlamentares. O que mais o irrita é a atitude do governo de votar as MPs a conta-gotas.

- Não por qualquer impasse em relação ao seu mérito, mas para impedir a apreciação de outras matérias que não têm nada a ver com o teor das referidas MPs - atacou Severino.

O parlamentar cobrou do Planalto a apresentação de uma agenda de prioridades legislativas, assegurando que a Casa vai dar toda atenção e andamento a estas matérias.