O Estado de S. Paulo, n. 46587, 06/05/2021. Política, p. A4

Presidente insinua que China faz ‘guerra química’ com covid

Lauriberto Pompeu


O presidente Jair Bolsonaro fez mais um ataque à China, o principal parceiro comercial do Brasil, ao insinuar que a pandemia de covid-19 seria um instrumento de “guerra química” para garantir maior crescimento econômico ao país asiático. Bolsonaro voltou a dizer que o coronavírus pode ter sido criado em laboratório – tese contestada como “extremamente improvável” pela Organização Mundial da Saúde.

“É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou se nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí, os militares sabem que o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês. O que está acontecendo com o mundo todo, com sua gente e com o nosso Brasil?”, disse o presidente em cerimônia no Palácio do Planalto referente à Semana das Comunicações.

Bolsonaro fez as afirmações justamente no momento em que Estados enfrentam dificuldades para aplicar a segunda dose da Coronavac, vacina produzida no Brasil pelo Instituto Butantan com insumos chineses.

Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, também disse que “o chinês inventou o vírus”. Horas depois, disse ter usado “uma imagem infeliz”. O ex-chanceler Ernesto Araújo, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) também já provocaram atritos com a China.

Na cerimônia de ontem, Bolsonaro defendeu o filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-rj), e os assessores da Presidência Tercio Arnaud Tomaz e José Matheus Salles Gomes. Conhecido como “gabinete do ódio”. “São pessoas perseguidas o tempo todo, como se tivessem inventado um gabinete do ódio”, afirmou o presidente. “É o gabinete da liberdade, da seriedade.”

Crítico de medidas de isolamento social, Bolsonaro disse avaliar a edição de um decreto para garantir a “liberdade de culto, de poder trabalhar e o direito de ir e vir”. E, num desafio ao Supremo Tribunal Federal, disse que a medida “não poderá ser contestada por nenhum tribunal”.

Mais tarde, no Rio, Bolsonaro disse que não se referia à China. “Eu falei a palavra China hoje de manhã? Não falei. Eu sei o que é guerra bacteriológica, química, nuclear. Eu sei porque tenho informação, e só falei isso, mais nada”, disse, e voltou a falar na edição do decreto.

Interdição. Após as declarações, o presidente da Frente Parlamentar Brasil-china, deputado Fausto Pinato (Progressistas-SP, defendeu a interdição de Bolsonaro por “desvio de personalidade”. Em nota, afirmou que o presidente pode ter “uma grave doença mental” que o faria “confundir realidade com ficção”.