Título: Putin propõe conferência
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/04/2005, Internacional, p. A10
Presidente russo quer reunião em Moscou sobre a paz no Oriente Médio
JERUSALÉM - Em meio a alguns desentendimentos, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, chegou ontem a Israel para a primeira visita de um chefe de Estado russo (ou soviético) ao país desde a sua criação, em 1948. Antes, no Cairo, Putin propusera a convocação de uma conferência internacional para a paz no Oriente Médio. A idéia foi bem recebida pela Autoridade Nacional Palestina (ANP) e pelos Estados Unidos, mas não pelo governo israelense, que afirmou que não vai participar de um encontro deste tipo.
A recusa pode minar os esforços de Moscou em recobrar sua influência no Oriente Médio, um dos propósitos da visita de Putin, que começou no Egito. Hoje, ele se encontra em Jerusalém com o presidente de Israel, Moshé Katsav, e com o premier Ariel Sharon. Entre outros desacordos figuram a venda de mísseis antiaéreos russos à Síria - os quais o governo israelense teme parar na mão de grupos terroristas como o Hisbolá - e a cooperação nuclear da Rússia com o Irã, suspeito de desenvolver um programa atômico militar.
Na sexta-feira, o dirigente russo segue para Ramala, na Cisjordânia, para uma reunião com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
Mesmo com a recusa incial de Sharon em participar da conferência de paz, talvez no fim do ano em Moscou, Putin vai tentar convencê-lo a mudar de idéia. Também estariam presentes, além de palestinos e israelenses, os promotores do plano de paz para o Oriente Médio, o Mapa do Caminho: os Estados Unidos, a União Européia, a ONU e, claro, a Rússia.
- A conferência internacional que propomos nasce da necessidade de relançar o processo de paz - defendeu Putin ontem, em uma entrevista coletiva no Cairo junto ao presidente egípcio, Hosni Mubarak.
Em uma entrevista para o Al Ahram, um dos principais jornais egípcios, Vladimir Putin afirmou que sua visita ao Egito - a primeira dele como presidente a um país árabe - tem a intenção de impulsionar os laços de Moscou com a região, onde a antiga União Soviética gozava de forte influência. O comércio ente russos e egípcios também esteve na pauta. O intercâmbio vem crescendo e dobrou no ano passado, alcançando US$ 834 milhões.
Sobre a proposta russa, apesar do apoio inicial, Washington teme que não haja tempo suficiente para começar a resolver tantas questões.
- Precisamos nos focar agora na retirada israelense da Faixa de Gaza. Acho que não conseguiremos fazer a conferência antes do início do ano que vem - justificou o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan.
Israel recebe Putin com todas as honras, mas o presidente russo enfrentará críticas sobre sua decisão de vender mísseis de defesa antiaérea de curto alcance à Síria. Enquanto Moscou afirma que vai monitorar a localização das armas, especialistas ocidentais dizem que o equipamento pode ser desmontado e transformado em lançadores de ombro.
A participação russa no programa nuclear do Irã constitui outro tema de discórdia. Israel e Estados Unidos afirmam que Teerã quer dotar-se de armamento nuclear que modificaria o equilíbrio estratégico na região.
Do lado do Kremlin, o descontentamento é com o visto de permanência dado por Israel a três empresários judeus do setor de petróleo - Leonid Nevzlin, Mikhail Brudno e Vladimir Dubov - fugitivos de Moscou. Israel já avisou que a extradição está fora de questão. Membros da comunidade judaica acreditam na possibilidade de anti-semitismo no indiciamento dos bilionários empresários, ex-sócios de Mikhail Khodorkovsky, ex-chefe da gigante petrolífera Yukos, que aguarda sentença na Rússia por crimes de fraude e evasão fiscal. Já Khodorkovsky, acusa o Kremlin de corrupção.
- O escândalo da Yukos teve raízes políticas e talvez anti-semitas - disse o legislador israelense Roman Bronfman, que emigrou da URSS em 1980.
- Os empresários agora são cidadãos israelenses e é assim que vai ser - garantiu o porta-voz de Sharon, Asaf Shariv.