Correio Braziliense, n. 21179, 20/05/2021. Política, p. 3
Capitã Cloroquina sob pressão
Bruna Lima
O depoimento da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, na CPI da Covid, foi adiado para a próxima terça-feira. Conhecida como "Capitã Cloroquina", a médica é apontada como idealizadora e responsável pela plataforma TrateCov, que prescrevia o kit-covid aos usuários do aplicativo.
Durante depoimento, ontem, no colegiado, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello reiterou que foi Mayra Pinheiro quem apresentou a proposta do aplicativo e liderou a sistematização da plataforma.
"Ela me trouxe como sugestão, quando voltou de Manaus, no dia 6 de janeiro, que poderia utilizar uma plataforma, já desenvolvida para isso, uma calculadora, para facilitar o diagnóstico clínico feito exclusivamente pelo médico", relatou. "E que ela ia iniciar, então, esse trabalho para fechar essa plataforma."
Foi Mayra Pinheiro quem apresentou o projeto-piloto do TrateCov em Manaus. O sistema, supostamente, ajudava a diagnosticar a doença, após o médico cadastrar sintomas do paciente e comorbidades, como diabetes. Em seguida, a plataforma sugeria a prescrição de medicamentos como hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiciclina, o conhecido kit-covid.
Diante da repercussão, já que os medicamentos não têm eficácia comprovada contra a doença, a plataforma saiu do ar. Mas, segundo afirmou Pazuello na CPI, a pasta não "chegou a colocar em operação" o sistema.
O assunto deve nortear as perguntas dos senadores à secretária, que teve negado o pedido de habeas corpus que encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) para permanecer em silêncio durante o depoimento. O ministro Ricardo Lewandowski indeferiu a solicitação. Na avaliação do magistrado, ela não tem motivos para temer eventual prisão ou comportamento "agressivo" de senadores, como alegou.