Título: Estado palestino custa US$ 33 bilhões
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/04/2005, Internacional, p. A11

Cifra é estimada para gastos em investimentos nos 10 primeiros anos, mas autores do estudo condicionam plano à segurança

WASHINGTON - Um futuro Estado Palestino pode ser viável e demandaria cerca de US$ 33 bilhões em investimentos nos primeiros 10 anos, mas teria de garantir a segurança de seus próprios cidadãos e de israelenses, de acordo com um relatório divulgado ontem nos EUA.

O documento elaborado pela Rand Corporation - organização americana de pesquisa, sem fins lucrativos - traça um ambicioso plano para que os palestinos atinjam progressos econômicos, mas se baseia na hipótese de que primeiro conquistem um acordo de paz estável com Israel.

- Um Estado palestino pode ser bem-sucedido - avaliou Ross Anthony, um dos autores do estudo. - Mas não será fácil.

A parte central do plano é a construção de um novo corredor do Norte da Cisjordânia até Gaza - chamado de Arco -, que abriria caminho a um trem de alta velocidade, a uma auto-estrada, a um aqueduto e a uma rede de energia elétrica e de cabos de fibra ótica.

A linha de trem permitiria que os visitantes que entrassem na Palestina pelo novo aeroporto, que seria construído no Sul da Faixa de Gaza, chegassem a qualquer lugar na Cisjordânia em questão de minutos. Ao mesmo tempo, o trem seria uma maneira rápida e eficiente de levar produtos de exportação da Cisjordânia ao novo porto em Gaza, por onde seriam escoados.

A construção do Arco criaria até 160 mil empregos por cinco anos e geraria milhares de outros com os novos negócios que seriam construídos na área.

No entanto, tudo depende da segurança, alertam os autores do documento.

''O êxito de um Estado palestino independente é inconcebível sem que haja paz e segurança igualmente para palestinos e israelenses'', destaca o texto. ''Um Estado palestino independente deve ser seguro dentro de suas fronteiras, capaz de prover segurança diária a seus habitantes, ser livre de subversão ou exploração estrangeira e não representar perigo a Israel''.

O custo estimado de US$ 33 bilhões representa uma média anual de US$ 760 por pessoa, valor comparável aos gastos com esforços de construção de outras nações.

- Mas ninguém sabe quanto isto realmente vai custar no final - alertou Steven Simon, co-autor do relatório.

O documento, no entanto, ignora vários fatores da atual realidade política da região, como por exemplo a existência de uma resistência armada palestina, que se opõe à paz com Israel, e a força do movimento de colonos judeus, que são contrários a um acordo territorial com palestinos.

O texto também não faz menção a alguns outros problemas que o futuro Estado deve se deparar: o rápido esgotamento de recursos hídricos, uma infra-estrutura em ruínas, alto índice de pobreza exacerbado pela Intifada que começou em 2000, o aumento da mão-de-obra - a maioria desempregada - e um rápido crescimento populacional.

A previsão é de que a população do novo Estado dobre em 20 anos, com o retorno de cerca de 600 mil refugiados da diáspora palestina. Os autores do relatório dizem que essas pessoas poderiam ser melhor acomodadas em novas áreas, ligando os centro histórico das cidades ao Arco.

No entanto, este fator foi indicado pelo documento como sendo um dos grandes desafios do projeto. Segundo o relatório, a estabilidade do Estado estaria comprometida se fosse permitida a entrada de uma ''enxurrada'' de refugiados nos primeiros anos, já que afetaria a infra-estrutura local.

O texto sugere que sejam criadas quotas anuais de imigração para prevenir ''um retorno maciço e caótico à Palestina''. Mas os autores do estudo reconhecem que a limitação da volta dos refugiados poderia provocar um sentimento de raiva na população palestina, o que desestabilizaria o novo governo.

Ainda segundo o documento, as perspectivas de êxito do novo Estado aumentariam se seu território for contíguo e as fronteiras com Israel ficarem abertas.

Isto vai de encontro com a barreira de segurança que está sendo construída entre Israel e a Cisjordânia e com os esforços israelenses de reter os principais assentamentos, que os críticos dizem que dividiria o futuro Estado palestino em regiões geograficamente isoladas.