Título: Novo papa faz primeira audiência
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/04/2005, Internacional, p. A14
Padre é acusado de ter espionado João Paulo II para os comunistas
VATICANO - Bento XVI retomou ontem as tradicionais audiências papais das quartas-feiras, no Vaticano. Depois de ter se ''esquecido'' de saudar os fiéis latinos no sábado, quando se encontrou com jornalistas do mundo todo, Joseph Ratzinger falou ontem em espanhol.
O novo papa também enviou mensagens aos católicos em alemão (seu idioma nativo), francês, inglês, polonês, esloveno e croata. Em português, falado no país de maior população católica do mundo - o Brasil -, Ratzinger ainda não se dirigiu aos fiéis.
- Voltemos à normalidade - pediu Bento XVI, em espanhol.
Em seu discurso, o pontífice elogiou as raízes cristãs da Europa e exaltou a unidade do continente.
- São Bento é muito venerado na Alemanha e, em particular, na Baviera, minha terra natal, constituindo um fundamental ponto de referência para a unidade européia e um forte chamado para a inalienável raiz cristã na cultura e civilização da região - afirmou.
O papa chegou à praça a bordo do ''papamóvel'' branco, o conversível que João Paulo II usava antes de sofrer um atentado a tiro, na década de 1980. Bento XVI estava acompanhado do seu secretário, o jovem Georg Gaenswein, que se encontrava sentado no banco de trás. O pontífice circulou entre a multidão por cerca de 10 minutos antes de chegar ao átrio da basílica onde estava colocada a sua cadeira. A última audiência geral de João Paulo II foi em 26 de janeiro.
- Viemos para animá-lo e não somente para vê-lo. Na verdade, para que Bento XVI se sinta apoiado em sua primeira audiência pública - justificou o religioso libanês Michel Abud, de 32 anos.
Também assistiram à cerimônia pelo menos 100 muçulmanos, que participavam de uma reunião em Roma organizada pelo movimento católico Focolari.
Em Varsóvia, surgiram acusações de que o padre polonês Konrad Stanislaw Hejmo, de 69 anos, encarregado de receber os peregrinos no Vaticano durante o pontificado de João Paulo II, teria colaborado com a Inteligência da Polônia comunista.
O pontificado de João Paulo II teve como marca a luta contra o comunismo na Polônia e no mundo.
Segundo Leon Kieres, chefe do Instituto da Memória Nacional, que investiga crimes nazistas e comunistas na Polônia, o nome de Hejmo está em vários documentos da época, indicando sua colaboração como informante.
O padre utilizava os pseudônimos de Hejnal e Dominik, para assinar os documentos enviados para a polícia comunista, afirmou Kieres.
O padre Hejmo é bastante popular na Polônia e é uma referência para a mídia local. Ele foi um dos principais comentadores sobre o estado de saúde do papa João Paulo II, nos meses anteriores à morte do antigo pontífice.