Título: Autoridades querem mais tempo para investigar
Autor: Marcello Gazzaneo
Fonte: Jornal do Brasil, 28/04/2005, Rio, p. A17

Polícia e Ministério Público vão pedir 30 dias para encerrar inquérito sobre a chacina

A menos de uma semana do fim do prazo para encerrar o inquérito que apura a chacina da Baixada Fluminense, a Polícia Civil do Rio e o Ministério Público (MP) do estado anunciaram, ontem, que vão pedir a prorrogação das investigações por mais 30 dias. Segundo o secretário de Segurança Pública do Rio, Marcelo Itagiba, também será pedida a prorrogação da prisão temporária dos 11 policiais militares acusados do crime. O motivo alegado pelo secretário para pedir mais 30 dias para as investigações é dar à denúncia que será entregue à Justiça o maior número de provas possíveis. Apesar da explicação de Itagiba, policiais ligados às investigações contaram que ainda não há provas suficientes para incriminar os 11 PMs apontados como autores das 29 mortes na chacina. Até o momento, apenas seis deles seriam indiciados caso o inquérito terminasse hoje.

A decisão foi tomada após uma reunião entre a cúpula da Secretaria de Segurança, o procurador-geral do estado, Marfan Martins Vieira, e os promotores do caso. Os pedidos serão feitos hoje.

- Queremos que a denúncia seja inteiramente consistente. Para que no momento que seja acolhida pela Justiça, tenhamos a certeza da condenação - afirmou Marfan Vieira.

Ao justificar a prorrogação do prazo da investigação, o procurador-geral lembrou que é preciso evitar os erros do passado, como no caso da chacina de Vigário Geral, em 1993, quando 21 pessoas foram assassinadas por policiais civis e militares. Dos 52 acusados e denunciados pelo crime, apenas seis foram condenados.

- Naquele episódio, a polícia, para dar uma resposta rápida à sociedade, acabou cometendo equívocos no inquérito, resultando na condenação de apenas seis dos acusados - lembrou.

Segundo o procurador-geral, o inquérito precisa estar bem embasado por provas técnicas. Até agora, a polícia já conseguiu descobrir que num Gol prata, usado na chacina, havia sangue de duas vítimas: Francisco José da Silva Neto e Marco Aurélio Alves. Também foram encontrados no mesmo carro, que estava emprestado ao soldado do 20º BPM (Mesquita) Carlos Jorge de Carvalho, um dos acusados do crime, cartuchos do mesmo calibre recolhidos em dois pontos do massacre.

Marfan contou ainda que na reunião os promotores entregaram à polícia uma relação de novas diligências que precisam ser feitas. Ele também criticou as declarações do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que se mostrou favorável à federalização do crime. Segundo Marfan, a polícia está conduzindo as investigações de forma correta e eficiente. Ontem, parentes das vítimas pediram ao procurador-geral da República, Claudio Fonteles, a federalização das investigações da chacina.