Título: Óleo atinge área de proteção ambiental
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 28/04/2005, Rio, p. A17

Vagões de trem tombam e rio corre risco

A última região preservada da Baía de Guanabara, a Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, foi atingida ontem por milhares de litros de óleo diesel. O óleo foi despejado no Rio Caceribu após o descarrilhamento de um trem de carga na altura de Porto das Caixas, em Itaboraí. O tombamento de sete vagões do trem ocorreu no final da madrugada de terça-feira, quando 60 mil litros de óleo atingiram o Caceribu, um dos rios mais bem conservados entre os que desembocam na Baía. Segundo a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema), o acidente ferroviário causou um desastre ecológico na região. Técnicos da Feema não descartam a possibilidade de ocorrer uma grande mortandade de peixes na área e manguezais já foram atingidos.

A APA de Guapimirim tem a maior área contínua de manguezais do estado. Para punir a empresa ferroviária que opera na linha, a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), o governo do estado já aplicou duas multas. A Comissão Estadual de Controle Ambiental (Ceca) estipulou em R$ 4 milhões o valor da multa pelo derramamento do óleo. A Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (Serla) multou a FCA em R$ 1 milhão porque um manancial de água foi atingido.

O chefe da APA de Guapimirim, Breno Herrera, disse ontem que os técnicos estão tendo muito trabalho pra conter a mancha de óleo diesel. Ele criticou a qualidade e a quantidade do material de contenção cedido pela FCA.

- Estamos com o risco de rios paralelos ao Caceribu serem atingidos pela mancha - disse.

As equipes conseguiram retirar parte do combustível que não vazou dos vagões. O trabalho é considerado de risco, pois existe a possibilidade dos vagões se romperem, provocando o derramamento de mais óleo.

O carregamento de 420 mil litros tinha saído da Refinaria Duque de Caxias (Reduc) e seria levado para Campos. A FCA demorou mais de quatro horas para avisar as autoridades. O óleo escorreu por valas, moradores passaram mal e foram atendidos em uma ambulância. A FCA transferiu 21 pessoas de suas casas para um hotel.

- Estamos praticamente abandonados. Não recebemos orientação - disse a professora Maria A. S. e Castro, 41, que mora em frente à linha do trem.

Em nota divulgada ontem, a FCA negou que os moradores estejam sendo tratados com descaso. Segundo a empresa, ''os órgãos competentes'' avaliaram que não há necessidade de remoção das famílias do local e estão realizando visitas domiciliares para encontrar pessoas que tenham passado mal depois do vazamento. A FCA diz ainda que deslocou cem homens para ajudar na limpeza da área.

Com Folhapress