Título: Criação de empregos estagnada
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 28/04/2005, Economia & Negócios, p. A19
Número maior de pessoas à procura de vagas provoca terceira alta consecutiva na taxa de desocupação, que vai a 10,8%
O desemprego atingiu 10,8% da População Economicamente Ativa em março, em uma trajetória ascendente desde dezembro, quando chegou a atingir um dígito, fechando em 9,6%. Em fevereiro, a desocupação foi de 10,6%, ante 10,2% de janeiro. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) como o número de vagas não avançou em três meses, o crescimento se deve a um número maior de pessoas procurando emprego.
O número de pessoas com rendimento inferior a um salário mínimo, porém, cresceu nos últimos anos, segundo a pesquisa. Às vésperas do aumento do salário mínimo de R$ 260 para R$ 300 - que passa a valer a partir de maio -, o IBGE destaca que 16,7% das pessoas ocupadas apresentam remuneração inferior ao valor garantido pelo governo. Em 2002, o percentual de trabalhadores com remuneração inferior ao salário mínimo era de apenas 11,1% da população ocupada - o que representa uma alta de 50% no indicador.
Segundo o coordenador da pesquisa, Cimar Azeredo, a tendência é que o percentual de pessoas com ganhos inferiores ao salário mínimo aumente ainda mais após o reajuste. Isto porque tradicionalmente há uma defasagem entre o aumento do salário mínimo e o reajuste dos salários pagos.
Apesar disso, a alta do desemprego nos últimos três meses vem ocorrendo em paralelo com a recuperação da renda. A pesquisa do IBGE mostra que o rendimento médio avançou 0,5% entre fevereiro e março, a terceira alta consecutiva. Na comparação com março de 2004, o aumento foi ainda maior: 1,7%. O rendimento médio real habitual da população foi de R$ 945,20, segundo o IBGE. De acordo com o economista da GRC Visão, Alex Agostini, a previsão para 2005 é que a renda cresça 5%.
Entre as mulheres, o percentual com remuneração inferior a um salário mínimo é de 23,3% e entre os homens, de 11,7%.
Segundo o IBGE, em regiões metropolitanas onde a indústria tem peso maior, esse percentual é mais baixo. É o caso de São Paulo. O número de pessoas com remuneração inferior ao mínimo soma 11,5%.
Nas seis maiores regiões metropolitanas do país, o número de pessoas com até um ano de estudo representa 2,6% da população ocupada. A remuneração de pessoas com este nível de escolaridade é de R$ 361,90. O resultado representa uma queda de 1,8% em relação a março do ano passado.
Os mais escolarizados (com 11 anos ou mais de estudo) somam 50,2% da população ocupada. A remuneração para esta faixa de escolaridade é de R$ 1.382,40. Em relação a março do ano passado, o rendimento apresenta queda de 1,5%.
O aumento do desemprego em março já era esperado pelo mercado. Segundo analistas, a tendência nos três primeiros meses do ano é de aumento da taxa com o fim das contratações temporárias de fim de ano. O ritmo de aumento, no entanto, foi menor do que em 2004 em razão da recuperação do mercado de trabalho no segundo semestre de 2004.
O IBGE explica, ainda, que a elevação do desemprego foi provocada mais por um ingresso de pessoas no mercado de trabalho em busca de vaga do que por demissões, já que a pesquisa mostra estabilidade no número de vagas. A População Economicamente Ativa (PEA) vem crescendo desde o início do ano, após uma queda no final de 2004, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Eram 21,7 milhões de pessoas ocupadas ou desempregadas em janeiro nas seis maiores regiões metropolitanas do país. Em março, o número passou para 21,9 milhões de pessoas.
O aumento da população ativa pode ser explicado, entre outros motivos, pelo crescimento da população em idade ativa. A PIA, com 38,6 milhões de pessoas no raio de alcance do IBGE, foi aumentada em 877 mil cidadãos em um ano.
Com o aumento da PEA e a estagnação do total de vagas, a taxa de desemprego acabou subindo para 10,8%. No setor privado, 35% dos trabalhadores continuam no mercado sem carteira ou por conta-própria, enquanto outros 40% são contratados formalmente.
Com agências