Título: Cai otimismo na indústria
Autor: Daniele Carvalho
Fonte: Jornal do Brasil, 28/04/2005, Economia & Negócios, p. A19
Expectativa do empresário sobre demanda e situação do negócio piorou em um ano
A indústria nacional começa a refletir mais nitidamente a desaceleração da economia nacional, aponta a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Dos seis indicadores que avaliaram o desempenho do setor nos três primeiros meses do ano, apenas um teve resultado melhor ao dos apurados em igual período do ano passado. A avaliação dos empresários para o segundo trimestre do ano, no entanto, é mais otimista, com perspectiva para aumento de preços.
Quando perguntados sobre a demanda global no primeiro trimestre de 2005, 85% dos entrevistados disseram que esta foi igual ou mais fraca do que a do ano anterior, ante 82% em abril de 2004. O percentual salta para 88% quando o questionamento é sobre a demanda interna. Em relação à demanda externa, o patamar dos que dizem que o indicador foi fraco ou igual ao do primeiro trimestre do ano passado é de 73%. Esta foi a primeira vez, desde outubro de 2003, que o percentual dos que acharam a demanda mais fraca é maior do que o dos que a avaliaram mais forte.
O nível de estoques começa a preocupar: para 76% das indústrias ouvidas, o patamar é normal ou excessivo. Em relação à situação da economia no período, apenas 21% responderam que foi boa. Para 79%, a maioria está normal ou mais fraca, contra 74% há um ano.
Na contramão, melhorou a avaliação sobre a utilização da capacidade instalada, que cresceu para as indústrias de bens da capital (82,5%), de bens de consumo (79,6%) e de materiais de construção (87,5%). O indicador se manteve estável para os bens intermediários.
- Já vemos que a economia está desacelerando e que crescerá a taxas menores este ano. Mesmo que haja uma recuperação, não chegaremos aos números de 2004 - comenta Aloísio Campelo, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV.
A previsão para o emprego também piorou, com 71% dos participantes dizendo que as vagas serão mantidas ou serão fechadas. Em igual período de 2004, o total era de 66%.
Já a demanda prevista para o próximo trimestre será igual ou melhor que a do ano passado, o que deve encorajar a indústria a elevar preços, pois 94% dos entrevistados avaliam que poderão subir seus preços entre abril e junho.
A sensação da indústria para os próximos seis meses dá sinais antagônicos da avaliação dos empresários. Apesar de dizerem que o período entre abril e junho será melhor, 64% acham que até setembro a situação econômica ficará igual ou pior a atual.
- Por conta desta oscilação nas avaliações dos industriais, só teremos uma avaliação mais exata da desaceleração da economia na sondagem do próximo trimestre - acrescenta Campelo.