Correio Braziliense, n. 21446, 04/12/2021. Política, p. 3

Moro deixa Bolsonaro tenso

Taísa Medeiros


A pré-candidatura do ex-juiz Sergio Moro ao Planalto mexe com os ânimos do presidente Jair Bolsonaro. O chefe do Executivo deixou transparecer o incômodo na live de quinta-feira, em que atacou seu ex-ministro da Justiça. “Esse cara está mentindo descaradamente. Faz um papel de palhaço, sem caráter. Mentiroso deslavado”, disparou. “Saiu do governo pela porta dos fundos, traindo a gente, querendo trocar o diretor-geral da Polícia Federal por sua indicação ao Supremo (Tribunal Federal). Aprendeu rápido, hein, Sergio Moro? Aprendeu rápido a velha política.”

Os ataques foram em resposta à acusação, feita por Moro, de que Bolsonaro comemorou a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da cadeia em 2019, porque achou que isso o beneficiaria politicamente. Mas além do rancor com o ex-aliado, o presidente está preocupado com o avanço do ex-ministro nas pesquisas de intenção de voto.   

Levantamento do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), feito entre 22 e 24 de novembro, apontou Moro com 11 pontos, três a mais do que na amostragem anterior. Enquanto isso, reduziu a intenção de voto em Bolsonaro, de 28% para 25%. Lula manteve o primeiro lugar, com 42%.  

Com Moro tendo herdado os três pontos perdidos por Bolsonaro dentro de um mês, a preocupação se justifica. É o que avalia Leandro Consentino, professor de ciência política e relações Internacionais do Insper. “Ele deixa claro nas declarações e posicionamentos. A metralhadora do Planalto foi deslocada para o ex-ministro, tirando do alvo, por ora, o ex-presidente Lula”, ressaltou.

Alerta

O especialista explicou que tamanha insegurança se deve ao que Moro “tira” de Bolsonaro, que seria uma possível vaga no segundo turno das eleições. “Isso acende uma luz amarela no Planalto”, frisou.

A 10 meses das eleições, o surgimento de uma terceira via com força suficiente para desmantelar a polaridade deixa de ser improvável. “O desafio da terceira via é difícil quando há pulverização de candidatos, mas pode ser que essa novidade do Moro mude ou corrija esses rumos. Ele é quem tem mais condições de fazer isso neste momento”, disse Consentino. De acordo com o especialista, para um crescimento sustentável, Moro terá de aglutinar outros atores políticos em torno de si.