Título: A delicada trama para manter o poder
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/04/2005, País, p. A3

De olho na reeleição de Lula, Planalto planeja alianças pouco ortodoxas nos Estados para a disputa de 2006

O Palácio do Planalto já começou a movimentar as peças do tabuleiro do xadrez político de olho nas eleições do próximo ano. A cargo do chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, a articulação política para 2006 carrega um ingrediente essencial: a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva. As costuras podem até parecer, em muitos casos, heterodoxas para as práticas petistas, mas na pragmática interpretação da Casa Civil, os fins justificam os meios quando esta causa é considerada justa pelo atual inquilino do Palácio do Planalto.

Para alcançar o objetivo, vale quase tudo. Só não vale atropelar candidaturas do PT com reais chances de vitória, explica o presidente do PT, José Genoino. Onde o PT tiver um candidato com boas chances de vitória, o partido não vai abrir mão da cabeça de chapa. Nos locais em que o PT tiver um bom palanque, vai de vice. E nos estados onde não possui nem palanque nem candidato viável, trabalhará por uma aliança sólida que possa aumentar a bancada federal de deputados petistas.

Um dos exemplos de costura já quase certa é Minas Gerais. No estado, todos os esforços estão sendo canalizados para a consolidação de uma chapa majoritária que deverá ter o vice-presidente José Alencar (PL) como candidato a governador, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias (PT), a vice e o ex-presidente Itamar Franco (PMDB), a senador.

A chapa é vista como muito forte pelo Planalto. Se não bastasse, para neutralizar o governador Aécio Neves (PSDB), hoje dono de prestígio nacional e em alta nas pesquisas de opinião no estado, o governo estuda exonerar de cargos federais afilhados políticos do tucano.

O engenheiro elétrico Dimas Toledo, diretor de Desenvolvimento de Furnas, e ex-presidente da empresa, por exemplo, indicação de Aécio, está com os dias contados.

Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, o governo e o PT não abrem mão da cabeça de chapa, disputada nos bastidores pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha e a ex-prefeita Marta Suplicy.

Mas o PT pode abrir espaço para o PMDB na escolha do vice. Nesse caso, o nome mais provável seria o do presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), a cada dia mais íntimo do terceiro andar do Planalto.

Ainda pelo acordo costurado com o PMDB, o governo deve apoiar o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), ao governo de Alagoas em 2006, e a reeleição do governador Roberto Requião (PMDB-PR) no Paraná. No Distrito Federal, o Planalto pode até entrar numa composição com o atual governador Joaquim Roriz (PMDB), provável candidato ao Senado.

Uma intervenção em Brasília não está descartada em razão da dificuldade de convencer os petistas da capital da República em não lançar candidato próprio.

Há uma avaliação no Planalto de que o PT só lançará candidato em Brasília se o deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF) acumular suficiente densidade eleitoral. Nesse caso, poderia ceder a vaga de vice ao ministro dos Esportes, Agnelo Queiroz do PCdoB.

Em Pernambuco, o governo articula apoio ao governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) ao Senado, com Humberto Costa (PT) lançando-se ao governo do estado. Corre por fora o prefeito de Recife, João Paulo do PT. Também não está descartado um acordo com Germano Rigotto (PMDB) no Rio Grande do Sul.

No Rio, o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, é a bola da vez. Seria candidato ao governo pelo PSB com as bençãos do Planalto. Durante a semana, o ministro admitiu estar pensando no assunto até porque se sente desconfortável em disputar o governo do Ceará contra o candidato do senador Tasso Jereissati (PSDB), seu aliado.

- Não existe uma forte liderança de esquerda no Rio hoje. O PT, o PSB e o PCdoB não têm nomes fortes. É claro que a candidatura do ministro seria casada com a campanha pela reeleição de Lula - disse o deputado federal Júlio Delgado (MG), da ala do PPS ligada a Ciro.