Título: Maquiagem política
Autor: Marcelo Ambrosio
Fonte: Jornal do Brasil, 24/04/2005, Internacional, p. A7

Na avaliação do deputado Julio González, a obra do aeroporto de Tena integra a estratégia de aproximação com os objetivos americanos que o ex-presidente Lucio Gutiérrez nunca assumiu abertamente. Assim, indicar o projeto como obra prioritária no IIRSA foi parte de uma ''maquiagem'' para esconder o destino militar do terminal como base dos EUA.

- Mesmo que Gutiérrez negasse, vinha sendo um complacente aliado da política colombiana. Tanto que ofereceu pontos de apoio em território equatoriano para que eles fizessem a fumigação das lavouras de coca em Sucumbios, no Norte, e criou um decreto mobilizando 10 mil soldados na região - argumenta ao JB , citando ainda a prisão, em Guayaquil, de guerrilheiros das Farc, como Simon Trinidad.

A militarização da fronteira já teria agravado os problemas sociais e sanitários provocados pelo uso excessivo do herbicida glifosato associado a substâncias que ampliam seu potencial tóxico. A contaminação atinge adultos, gera malformações em crianças e ataca lavouras de subsistência. A presença dos soldados, segundo o deputado, forçou um deslocamento interno da população, que foi privada de relações com os colombianos.

- Vetamos o convênio proposto pelo encarregado de negócios dos EUA, Arnold Chacon, para a construção de bases logísticas em La Guaria, Cuenca e Guayaquil. Nós o associamos ao plano do governo de fortalecer a relação com o Plano Colômbia e com Uribe. A pista de Tena foi a alternativa que acharam - raciocina o deputado, lembrando que já existiam obras tidas como prioritárias para o desenvolvimento da região, como a rodovia de 150 km ligando o Pacífico ao porto fluvial de Putumayo. A construção, de US$ 183 milhões, também a cargo da Odebrecht, está parada.

- Ela cumpriria os mesmos objetivos. Quando cobramos isso, o governo não soube responder - encerra.