Título: Bento XVI faz apelo à imprensa
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 24/04/2005, Internacional, p. A8
Em discurso para cerca de 4 mil jornalistas no Vaticano, o papa Bento XVI ressaltou ontem a responsabilidade da imprensa na busca da verdade e na defesa da dignidade, e prometeu fazer um pontificado tão aberto à mídia quanto seu antecessor, João Paulo II. Bento XVI convidou a imprensa do mundo todo para sua primeira audiência para não-clérigos, terça-feira. E acrescentou que os jornalistas devem ter consciência do efeito que a mídia pode ter ¿na consciência das pessoas, na sua visão espiritual e na formação da opinião pública¿. Em duas ocasiões na semana passada, uma como cardeal e outra já como papa, Joseph Ratzinger citou por várias vezes o nome de seu amigo e antecessor. Mas além de sinalizar a intenção de continuidade, Bento XVI tenta trazer para si um pouco da simpatia que os fiéis tinham por João Paulo II. Críticos do alemão afirmam que falta-lhe o carisma necessário para manter na Igreja os jovens fiéis atraídos durante 26 anos por ¿João de Deus¿.
O teólogo James Wiseman, da Catholic University of America, lembra que ¿ninguém pode simplesmente conjurar carisma¿.
¿ Mas Bento XVI vai encontrar uma luz-guia ao invocar o modo como João Paulo II serviu à Igreja como papa. A própria homilia de Ratzinger no funeral foi pessoal e tocante, especialmente o trecho em que lembrou como Wojtyla saudava a multidão da janela no Vaticano e ao dizer que agora ele olha para os fiéis da janela do céu ¿ afirma Wiseman ao JB.
Outro ponto em que o conservador Ratzinger ¿ ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que substituiu a Santa Inquisição ¿ mostrou a intenção de não afastar católicos moderados e jovens e até atrair suas atenções foi em sua primeira missa como papa, quarta-feira, para cardeais. Bento XVI afirmou que João Paulo II ¿deixou uma Igreja mais corajosa, livre e jovem. Uma Igreja que olha com serenidade para o passado e não teme o futuro¿.
¿ Não podemos dizer ao certo como Ratzinger vai ser ou agir. Seu cargo e sua pessoa religiosa mudaram. Agora que não é mais o guardião da doutrina como antes, ele está mais livre para expressar humanidade e, quem sabe, chegar ao coração dos fiéis ¿ acredita a vaticanista Amanda Porterfield, da Florida State University.
Wiseman ressalta, entretanto, que a amizade entre Ratzinger e Wojtyla delineia manutenção também das idéias doutrinais.
¿ Praticamente não havia questões da doutrina das quais os dois discordassem. O que acontecia é que o alemão tinha o dever de ser mais duro ¿ afirma. ¿ Suas opiniões não vão mudar de repente, o que vai mudar é o tom em que ele as profere.