Título: Roma se habitua à multidão
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 24/04/2005, Internacional, p. A8
Capital italiana tem bem-sucedidos esquemas de segurança para abrigar peregrinos
O forte esquema de segurança visto em Roma para as exéquias do papa João Paulo II será repetido hoje, quando Bento XVI faz a primeira missa pública de seu pontificado. O espaço aéreo romano está fechado e desde ontem os aeroportos já não recebem vôos comerciais, para que os aviões oficiais, que trazem chefes de Estado, possam aterrissar seguramente. Patrulhando o céu, estarão um avião radar Awacs, caças e helicópteros. Nas ruas, 7 mil agentes foram mobilizados, para fazer a guarda do chanceler Gerhard Schröder e do presidente Horst Köhler, da Alemanha, dos reis da Espanha, Juan Carlos e Sofia, e dos presidentes Álvaro Uribe (Colômbia), Néstor Kirchner (Argentina), Nicanor Duarte (Paraguai) e Elías Antonio Saca (El Salvador), além do vice-presidente americano, Dick Cheney. A missa, na qual Joseph Ratzinger receberá os símbolos visíveis de seu papado ¿ o pálio, a longa estola que se usa nas celebrações, e o Anel de Pescador, que representa São Pedro ¿, também contará com a audiência do irmão do pontífice, Georg Ratzinger.
Além dos 7 mil agentes, 2 mil voluntários da Defesa Civil vão ajudar os esperados 500 mil peregrinos até a praça São Pedro, oferecendo água e servindo de intérpretes. Oito postos médicos, 60 ambulâncias, uma centena de médicos e até 300 enfermeiras também estarão posicionados para ajudar os fiéis.
No entanto, este esquema não foi decidido de uma hora para outra. Sequer foi planejado às vésperas da morte de Karol Woijtyla.
¿ O plano de segurança já havia sido testado no Jubileu 2000. Em agosto, durante a Jornada da Juventude, Roma recebeu 2 milhões de jovens católicos, pouco menos que do que chegou à cidade para os funerais de João Paulo II ¿ conta ao JB o engenheiro civil italiano Stefano Carrese, especialista em redes de transportes da capital italiana e membro do comitê que elaborou o plano de segurança para o Jubileu 2000.
Para a missa de Bento XVI, a cidade se prepara para ¿outra prova extraordinária¿, como classificou o prefeito Walter Veltroni.
¿ Mais uma vez contamos com o civismo dos visitantes e com a grande generosidade dos cidadãos ¿ disse.
O urbanista Elio Piroddi, que na Universidade La Sapienza é doutor em planejamento do crescimento de Roma, tece elogios também ao comportamento dos peregrinos católicos.
¿ Temos que ressaltar que parte do sucesso do planejamento urbanístico para o funeral foi do público, bastante ordeiro. Roma tem 2,5 milhões de habitantes e a população dobrou durante as exéquias. Mas não houve problemas graves porque os peregrinos tinham uma missão de fé ¿ defende.
¿ Além disso, Roma é uma atração histórica e religiosa. Os romanos estão acostumados a multidões ¿ afirma Carrese.
O único aspecto da vida cotidiana da população que foi prejudicado pela grande quantidade de visitantes no início do mês foi o sistema de transportes. Linhas de metrô e trem ficaram lotadas e ruas do centro foram bloqueadas. A confusão é praticamente inevitável, concordam os engenheiros, mas há algumas medidas para amenizar o quadro. E é neste quesito que Roma tem algumas coisas a aconselhar ao Rio de Janeiro, que em 2007 abriga os Jogos Olímpicos Panamericanos.
¿ A primeira providência é organizar grandes estacionamentos fora da área já conturbada, por onde os turistas podem chegar em ônibus grandes. Depois, o deslocamento é feito por microônibus próprios para carregar quem já tiver os ingressos para os eventos. Próximo de estádios, só devem andar quem for assistir aos jogos ¿ recomenda Carrese.
¿ É importante colocar as pessoas para caminhar o máximo possível, para evitar grandes congestionamentos. Também é bom que os microônibus façam uma trajetória pendular, ou seja, levar os torcedores de um lugar para o outro, em distâncias curtas, com no máximo três paradas no caminho ¿ indica Piroddi.
Mas o crucial, afirmam os especialistas, é tirar do centro da cidade qualquer manifestação que possa reunir mais gente do que a área já recebe.
¿ É bastante recomendável aumentar o número de ônibus circulares, fazendo inclusive trajetos alternativos e mais rápidos para todas os bairros da cidade, e desviar as linhas que passam perto de estádios e da Vila Olímpica. Se tiverem a garantia de que a volta para casa não será demasiadamente demorada, os cidadãos concordam em deixar o carro em casa ¿ afirma o engenheiro.