Título: ''Não há chance de aliança PT-PMDB''
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 24/04/2005, Brasília/ Entrevista, p. D3

Entrevista: Chico Vigilante

O deputado Chico Vigilante vem sendo apontado como pivô de um racha na maior corrente dentro do PT-DF ¿ a Articulação. O atual presidente da executiva regional, Wilmar Lacerda, integrante da Articulação, acusa o distrital de não apoiá-lo por não ter sido correspondido em seu ¿autoritarismo¿. Vigilante, no entanto, alfineta o adversário contando que ele teria rompido um acordo: o de sair em 2002 para se candidatar a distrital, abrindo espaço para Raimundo Júnior na presidência. Agora Júnior e Wilmar dividirão os votos dos cerca de 10 mil petistas no DF ligados à Articulação, que participarão do Processo de Eleição Direta em setembro. Um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores na capital do País, Francisco Domingos dos Santos é conhecido pela firmeza de suas posições. Foi o maior crítico do bloco formado entre PT e PFL na Câmara Legislativa para as aeleições da Mesa. ¿Fortalecemos um segundo adversário¿, disse em entrevista ao JB. Exercendo pela primeira vez mandato de distrital, Vigilante, que já foi deputado federal por duas legislaturas, diz que a aliança entre PT e PMDB, negociada a nível nacional, é impossível no DF. Para o deputado, o candidato petista para concorrer à sucessão no GDF deve ser escolhido por consenso, e ele garante que seus projetos pessoais serão determinados pelo PT. Ele acredita que o partido vem fazendo uma oposição eficiente. Racha na articulação: Wilmar Lacerda contra Raimundo Júnior

¿ O PT sempre foi muito dividido, pois temos muitas tendências.Ainda em 81, na primeira reunião para legalização do partido, houve racha. Eram umas 20 pessoas: a Maninha, Paulo Fona, Orlando Cariello. Para nós da Articulação, o PT sempre foi estratégico, e não tático. Dirigimos os principais sindicatos. Se eu fosse o Wilmar não estaria fazendo essa disputa aqui dentro. A maioria das lideranças da Articulação está fechada com Raimundo Júnior. Não é disputa minha com Wilmar, mas concepção de ampla maioria de companheiros que imagina uma diferente condução do partido. No último PED, o Júnior tinha amplo apoio. Mas conseguimos negociar. Foi firmado um acordo trabalhado por mim, Jacques Pena e afiançado pelo Jacy Afonso (presidente do Sindicato dos Bancários), no qual o Júnior retiraria a candidatura, assim como o Pedro Celso, e todos nós apoiaríamos Wilmar. No período eleitoral, ele sairia para disputar a candidatura de deputado distrital e o Júnior assumiria o partido, como vice. Wilmar não cumpriu esse acordo.

Relação do PT-DF com o governo federal.

¿ Não tenho dúvidas de que o PT-DF está desprestigiado. As pessoas que estão no governo federal hoje não estão por indicação da legenda regional, mas por experiência própria. Antônio Alves, por exemplo, adquiriu experiência quando foi secretário e subsecretário de Saúde do DF, e pela participação no governo de transição. Viram sua competência e ele foi chefiar o gabinete do Humberto Costa. O Nelson Rubem participou do governo de transição, Dilma Roussef viu sua capacidade e o bancou no gabinete do Ministério das Minas e Energia. No caso do Swedenberger Barbosa (subchefe da Casa Civil), foi o relacionamento com Dirceu, que já vinha do tempo do governo do DF. Nada foi articulação do partido. Se fosse, o PT-DF, com a representatividade que tem, que sempre fez com que o Lula ganhasse aqui todas as eleições que disputou, iria ver um ministério estratégico, como o da Fazenda, da Saúde, de Minas e Energia, do Trabalho, para os quais temos bons quadros.

Candidato do PT para o GDF em 2006

¿ Individualmente, ninguém é forte. Nem eu, Cristovam, Magela ou Arlete... Todos devem compreender que forte é o PT e que é o partido que alimenta todos nós, e não o contrário. Há uma nação petista aí fora esperando respostas planejadas e estratégicas deste partido. Só existem dois fortes aqui em Brasília: o PT e o Roriz, não é nem o PMDB. Afinal, ele disputou as eleições de 90 pelo PTR, depois pelo PP e só depois pelo PMDB, que não era nada sem Roriz.Na hora que ele resolveu afrouxar um pouco, em 1994 ¿ até tenho dúvidas se não foi de maneira deliberada, quando Valmir Campelo foi candidato ¿ perdeu.

Prévias

¿ Trabalho para que não haja prévia, porque nesse momento colocamos as vísceras do partido à mostra do público. Não que haja algo que não possa ser mostrado, mas é que as pessoas não estão interessadas em brigas internas. Todo mundo tem que se despir das vaidades, calçar as sandálias da humildade e pensar num projeto. Sob pena de o PT passar mais 20 anos choramingando, na oposição. Não existe candidatura salvadora, individual. Até porque se ganhar, quem vai governar é o PT, não o Magela, Cristovam, Arlete.

Críticas de Cristovam ao governo

¿ Eu particularmente fico incomodado de ver o tanto de recursos que o governo federal disponibiliza em Brasília sem podermos aplicar a política que gostaríamos aqui, em sintonia direta com o Planalto. Fico me recordando o quanto foi doloroso para Cristovam governar o DF sob a gestão de FHC, que junto com Malan aplicava todo tipo de proibição ao GDF. Eu me lembro de Cristovam sendo obrigado a assinar um protocolo de intenções com que ninguém do PT concordava. Entretanto eu, Magela, Maria Laura e outros, defendemos a necessidade de aceitar o protocolo. Boa parte dos petistas defendia rompimento do PT com o governo naquele momento. Nós seguramos. Inclusive foi necessária a intervenção do Delúbio, do José Dirceu e de outros para que o PT-DF não rompesse com o governo de Cristovam. Por isso hoje não concordo com as críticas que Cristovam faz ao governo Lula. Cristovam já foi governador, sabe as dificuldades, não tem o direito de criticar desta maneira. Algumas coisas ele foi obrigado a fazer. Houve um projeto da área econômica em que eu estava dentro do plenário e o Cristovam me ligou dizendo para não votar contra. Eu disse que meu voto não iria alterar nada, era orientado pela bancada, e o governo ganharia de lavada. Mas ele afirmou que era um pedido do Malan. Coisas assim acontecem e as pessoas esquecem. Votei apostando na governabilidade. Elegemos o Cristovam Buarque em 94, e eu fui o deputado mais votado de Brasília, 54 mil votos. Não fui reeleito, nem Maria Laura, pois preferimos sacrificar o nosso mandato, nosso projeto político, do que inviabilizar o GDF. Em uma reunião na época com presidentes sindicais, Lula aconselhou ter paciência com Cristovam. São coisas que ninguém soube. O medo de Lula era que se passassem todos os sindicatos a atacar o governo, ele seria destruído.

Saída de Cristovam do governo

¿ Lula cometeu dois erros: convidar Cristovam para ministro da Educação e demití-lo. Com a experiência que Cristovam teve com o PT no governo, o mais correto seria ir para o Senado no primeiro momento, com sua respeitabilidade, e ajudar o governo federal a partir de lá. Foi para o governo e, com sua inquietação natural, fruto dos pensadores e humanistas, passou a se preocupar com sua pasta e com a dos outros. Quem tem que interferir, criticar, é o presidente e não um ministro. Por aí foram os caminhos traçados para a demissão. A birra com o José Dirceu não tem absolutamente nada a ver. Todo mundo sabe que Dirceu é um animal político, pensa política 24h por dia. Ele sabia que Cristovam não incomodaria em nada na sua estratégia. O Tarso Genro sim. Ele é um quadro histórico, tem projetos, faz disputa interna no PT o tempo todo. Só quem não conhece nada de PT acha que Dirceu seria capaz de tramar a queda de Cristovam para colocar o Tarso, para disputar com ele. O Dirceu me disse que pensar isso seria colocá-lo como idiota. A demissão foi decisão de Lula, para acertos internos. E o PT-DF que não tinha tido responsabilidade nenhuma na nomeação de Cristovam, não teve mobilização para mantê-lo no cargo

Alianças para 2006

¿ Quero todas as alianças necessárias para o PT ganhar as eleições do DF. Isso passa pelo PSB, PV, PHS e outros, o PTB. Agora, não vou ficar desesperado se o PT sair sozinho. Queremos alianças, mas não é questão de vida ou morte. Se não der, paciência, a gente se encontra no segundo turno. Sou contra alianças proporcionais. Muitas vezes a pessoa acha que está votando no PT e elege pessoa de outro partido. Está na hora de acabar com as alianças e cada partido se firmar enquanto tal.

PT e PMDB

¿ Na última eleição, ninguém apostava nada na candidatura do Magela. A população deu um recado direto a Roriz. O governo dele atualmente não é o mesmo de quando quase perdeu as eleições para a gente. Ele assimilou o recado. Falou ¿tá errado e vou mudar¿. Mas para mudar mesmo, só com o PT. Por isso eu acredito muito na possibilidade de ganharmos as elições de 2006. E não tenho medo do partido sair sozinho. Essa história de fazer aliança a qualquer preço, que não guarda nada com nossa identidade, atrapalha. Em Brasília não tem chance de uma aliança PT e PMDB. É ruim para nós e péssimo para eles. O próprio eleitor vai desconfiar, vai pensar ¿que coisa é essa que eles passam 20 anos se agredindo e agora fazem acordo¿. Isso seria selar a história do fisiologismo. Converso muito com Dirceu e ele nunca sinalizou isso para a gente. Pelo contrário, ele já me afirmou que vai fazer o que estiver ao alcance dele para voltarmos a governar o DF. O apoio do PMDB a Lula independe de acordo no DF. Até porque Lula de repente terá mais de um palanque. Não vamos proibir Paulo Octávio de apoiar Lula, nem o candidato do Roriz. E tmbém não está definido se ele fica no PMDB até o fim. Acho que ele até tem mais identidade com o PSDB.

Planos para 2006

¿ Ganhar as eleições do GDF. Não tenho projeto pessoal, nunca tive. Ser deputado foi conseqüência da minha miliatância, até porque quando entrei, em 79, nem tinha eleição em Brasília. Não me movo por vaidades. Não queria ser deputado distrital agora. Mas dentro de uma visão coletiva, o então candidato Lula convidou a mim e Sigmaringa para um almoço e ao final ele disse que não queria ver nós dois sem mandato. Eu sabia que se nós dois saíssemos para o mesmo cargo, era possível que os dois não se elegessem. Tinha certeza que o Lula seria presidente e sabia das dificuldades que ele teria de transitar no alto escalão do Judiciário. Precisaria de alguém. E, apesar orientador espiritual, Frei Beto não tem o trânsito do Sig com a cúpula católica, inclusive a CNBB. Então, abri mão para ser distrital.

Oposição ao GDF

¿ Fazemos uma oposição qualificada, que aponta os erros, denuncia desmandos e conversa, sem pedir nada. Por exemplo, o embate da Cidade Digital começou há um ano. Quando o Izalci começou a falar besteira na Câmara Legislativa, que a cidade não saia por causa do Ibama, procurei uma pessoa do governo que eu confio muito, Rogério Rosso. Eu, Palhares e José Flávio chegamos a conversar com Roriz, para que ele assumisse a poligonal como projeto dos dois governos, inclusive para que as bancadas do PMDB e do PT no Congresso dessem sustentação. Roriz topou.

Aliança com PFL na Câmara Legislativa

¿ Entendia que as coisas estavam tão bem delimitadas, PMDB governo e PT oposição, então, por que criar uma terceira força e mais um adversário para brigar comigo? Nosso embate é com o governo. E aí elegemos um presidente que também é governista. Nós fortalecemos Paulo Octávio. Eu dizia sempre para a Arlete, que era a líder: 'não quero que se repita na Câmara federal o que vai acontecer na distrital'. Por tradição, a maior bancada tem direito de escolher a presidência. Nossa bancada, a segunda maior, escolheria um cargo na Mesa. Eu vim do Congresso Nacional com essa experiência. E a partir do momento que fizemos isso aqui em Brasília, a câmara de vereadores de SP fez a mesma coisa, a Assembléia Legislativa também. Aí vieram os desdobramentos na Câmara Federal. Com que autoridade o PT cobraria coerência do PSDB e do PMDB? Se o PT tivesse mantido a tradição aqui, e na Câmara apresentado apenas um candidato, não teríamos Severino como presidente. O PT não teve coragem de assumir posição e excluir o Virgílio Guimarães, que deveria ter sido suspenso do partido. O resultado do Severino na presidência é o acúmulo de todos os erros das bancadas do PT Brasil afora. No DF, a maior conseqüência foi ter fortalecido um bloco que não existia.

Parceria com Rosso

¿ Em um seminário na Câmara Legislativa aprovamos a idéia de levar o carnaval para Ceilândia. Liguei para o Rosso, ele topou. Ninguém achava que ia dar certo. Mas fiz questão, para mostrar a outra Ceilândia. Agora, entendo que Ceilândia e Brasília têm espaço para todos disputarem eleição. Certamente Rosso terá muitos votos por lá, e eu também. Não penso em ficar atrapalhando, jogando casca de banana.