Título: Alianças regionais dividem partidos
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 25/04/2005, País, p. A2

Debate sobre coligações nos Estados põe tucanos e petistas do mesmo lado

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara analisa amanhã a emenda constitucional que propõe o fim da verticalização nas coligações. Proposta em junho de 2002 pelo ex-senador Bernardo Cabral (PFL-AM), a emenda derruba a determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), segundo a qual a coligação nacional deve se repetir nos planos estaduais. A questão é polêmica e coloca, lado-a-lado, tucanos e petistas, contra o PFL e demais partidos. - Não queremos analisar a verticalização sem discutir antes uma reforma política mais ampla. Não faz sentido debatermos os dois pontos em separado - desconversou o líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA).

Rocha acredita que a reforma política só vai sair do papel se os quatro principais partidos - PT, PMDB, PFL e PSDB - sentarem para aparar as arestas do texto. Ele sabe que a própria bancada governista tem resistências às alterações previstas na reforma política. Dentre essas legendas, encontram-se, principalmente, PL, PP e PTB. Este último é abertamente favorável ao fim da verticalização.

- Vai ser muito melhor. O presidente Lula terá candidatos a governador de diversas legendas pedindo votos para ele em 2006 - justificou o líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE).

O presidente da CCJ da Câmara, Antônio Carlos Biscaia (RJ), reconhece que o assunto será tratado como uma batalha regimental, que inclui pedidos de vistas, retirada de pauta ou inversão nas discussões. Para o petista, os debates na CCJ serão mais simples. A situação vai esquentar realmente caso venha a ser composta uma comissão especial, passo seguinte na análise de uma emenda constitucional.

- Nós vamos apenas dar o parecer pela constitucionalidade. O debate de mérito fica para depois - explicou Biscaia.

A situação mais esquizofrênica entre as legendas é encenada pelo PSDB. Em uma recente reunião do diretório nacional, os tucanos defenderam a manutenção da atual legislação eleitoral.

- Se a verticalização for mantida, o governo perde o apoio do PMDB na corrida presidencial - aposta o vice-líder do PSDB na Câmara, Eduardo Paes (RJ).

A análise é pragmática. Se os peemedebistas fecharem com Lula na sucessão presidencial, terão como parceiro preferencial o PT nos Estados, aliança impensável em locais como o Rio de Janeiro por exemplo. Em entrevista ao Jornal do Brasil de ontem, o presidente nacional do PT, José Genoino (SP), considera impossível uma aliança com o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho.

- Não temos aliança com o Garotinho, é impossível. Ali é água e óleo, não tem como juntar - reconheceu o presidente do PT.

Se a cúpula do PSDB, ansiosa por enfraquecer a candidatura Lula em 2006, quer manter a verticalização, a base do partido deve votar a favor da derrubada. Dois presidenciáveis, Aécio Neves (MG) e Geraldo Alckmin (SP), trabalham nos bastidores para isso.

No mesmo lado como oposição, em campos opostos na briga política. O PFL vai votar maciçamente pelo fim da verticalização. Para o líder do partido no Senado, José Agripino Maia (RN), a verticalização é uma agressão aos partidos.

- Não há como se fortalecer os partidos colocando um gesso nas alianças regionais - criticou Maia.

Para o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE), a verticalização é um ato autoritário que precisa ser derrubado. A justificativa da medida seria o fortalecimento dos partidos, evitando o aparecimento de legendas exclusivamente regionais ou estaduais, a exemplo do que ocorria durante a República Velha.

Freire afirma, contudo, que, a situação é completamente diferente nos dias de hoje.

- Cada estado tem uma realidade política específica. Não há como querer impor uma decisão a partir da eleição presidencial - criticou o presidente do PPS.