Título: Fusão, desfusão e a Amazônia
Autor: Gilberto Alves da Silva
Fonte: Jornal do Brasil, 25/04/2005, Outras Opiniões, p. A11

A cobiça pela Amazônia brasileira é cada vez maior. Esta área, que representa 61% do território brasileiro, abriga a maior floresta tropical do planeta.

O interesse por ela origina-se no início do século 19 e hoje constitui perigo eminente. Em abril de 1817, o capitão da Marinha norte-americana, Mathew Fawry, conhecido pelos seus trabalhos em oceanografia, enviou à secretaria de Estado do seu país um estranho mapa, redesenhado por ele, da América do Sul. A esta carta geográfica ia anexado um memorando secreto que ele havia encaminhado em 1816, sob o título ''Desmobilization of the Colony of Brazil''.

No mapa e no memorando, ele sugeria que os Estados Unidos iniciassem um processo que incentivasse a criação do Estado Soberano da Amazônia, onde estava incluída a região limitada pelas Guianas, pela fronteira da Venezuela e da Colômbia, ao Norte, e, ao Sul, por uma linha reta que começaria em São Luiz do Maranhão e terminaria no ponto extremo, onde hoje Rondônia limita-se com Mato Grosso.

Mas as suas idéias não paravam aí. Com o objetivo que só podia ser de desestabilizar o nosso país, sugeriu a criação da República do Equador, que nada tinha com o Brasil, que englobaria os Estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e parte do Maranhão. Queria, também, criar a Província Autônoma da Bahia e, no Sul, a República Riograndense e o que sobrasse seria o Brasil. Total ingerência na nossa soberania.

A construção e a manutenção de nossa soberania teve grande participação dos negros escravos. Vejamos: o escravo, com seu suor e sangue, foi a principal força de trabalho nos ciclos econômicos pelos quais a nação passou; além disso, lutou na Guerra do Paraguai, onde se estima que morreram 140 mil deles.

Quanto aos negros escravos norte-americanos, sua participação involuntária remonta à Guerra Civil daquele país. O presidente Abraão Lincoln, em 22 de setembro de 1862, fez a proclamação da emancipação declarando ''desde já e para sempre livres todos os escravos existentes nos Estados rebeldes''. Com a vitória da União, o presidente dos Estados Unidos realiza um encontro com uma representação de negros libertados, e lhes sugere, de acordo com a proposta do general James Watson Webb, ministro plenipotenciário de Washington junto à Corte de D. Pedro II, a criação de um Estado livre de negros americanos na Amazônia.

A nossa soberania foi salva pelo próprio grupo de negros que Lincoln havia convocado. A resposta deles foi: ''Não aceitamos a proposta, porque este país também é nosso''. Como se vê, a cobiça por esta área vem de longe e hoje está mais acirrada e perigosa, podendo chegar a ponto de afetar a soberania brasileira. Temos notícias, por meio da mídia, da presença de ONGs, instituições religiosas, científicas e culturais atuando junto à rarefeita população e levando nossas riquezas. Fora de nossas fronteiras, cercam-nos 20 bases militares americanas, ''a título de combater o narcotráfico e a guerrilha''.

O que se procurou mostrar é que o problema da Amazônia vem de longa data e deveria ser uma preocupação para os brasileiros, o que não parece ocorrer, pois há senador pelo Estado do Amazonas, com condição de influir ou propor medidas para a segurança e a preservação de tão cobiçada região, preocupado com a manutenção da fusão ou a desfusão do Estado do Rio de Janeiro, tão longe daquela região.

Temos pela frente o desafio de evitar uma possível invasão do nosso território. Para tal, é fundamental que se tenha um gerenciamento sobre a área, que se pense num povoamento sustentável para a região, talvez até, com a possível divisão deste imenso Estado em vários outros, com autonomia para um melhor desenvolvimento. Enfim, há situações mais graves preocupando os brasileiros que a discussão de uma desfusão que deverá trazer mais malefícios que benefícios.