Título: Milhares em apoio a Obrador
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Fonte: Jornal do Brasil, 25/04/2005, Internacional, p. A12

Cidadãos marcham em silêncio contra perseguição política ao prefeito da capital

CIDADE DO MÉXICO - Cerca de 120 mil mexicanos marcharam em silêncio ontem contra uma campanha governamental para julgar um político de esquerda. O tribunal poderia afastá-lo das eleições presidenciais.

Os cidadãos se espremeram na praça central e nas ruas do centro histórico, carregando bandeiras com dizeres contra o julgamento do prefeito Andres Manuel Lopez Obrador.

''Não deixe a democracia morrer'', lia-se numa faixa. Outras acusavam o presidente Vicente Fox de traidor e ditador.

Cidadãos de todas as idades, profissionais de classe média e estudantes se juntaram, num sinal do apoio geral ao político.

A marcha silenciosa de duas horas foi quebrada pelos aplausos quando Obrador subiu no palanque para discursar. Ele atacou os políticos e prometeu o combate à pobreza, se eleito.

- Continuaremos a lutar pacificamente, certos de que nossa causa é justa e por isso triunfaremos - gritou ele, defendendo o uso do petróleo mexicano para melhorar a condição de vida de 40 milhões de cidadãos. A marcha foi uma das maiores na história do país.

Obrador tem a liderança segura nas pesquisas de opinião para as eleições de 2006. Mas os números não significarão nada se não se livrar do julgamento obscuro de uma disputa de terras.

A batalha política e jurídica criou o receio de violência e instabilidade financeira, semelhante a da ''crise da tequila'' que atingiu a economia mexicana na década de 90. A bolsa de valores do país caiu 14% nas últimas sete semanas.

Promotores acusaram formalmente o político na semana passada, mas o juiz encarregado do caso o devolveu, porque a fiança foi determinada e paga antes que um mandado de prisão fosse emitido.

Espera-se que as acusações voltem nos próximos dias. Obrador diz que lutará contra o caso e pela presidência atrás das grades, se for preciso.

No entanto, o governo parece querer mantê-lo fora da prisão, para prevenir a criação de um ''mártir da democracia''.

O prefeito e seus apoiadores dizem que ele é inocente e vítima de um plano liderado por Fox, outros rivais políticos e grandes empresários, para tirá-lo da corrida presidencial.

- Eles querem se livrar de Obrador porque ele deve vencer e quer mudar o país. Eles estão contra o prefeito, nós e a democracia - disse Ana Maria Salazar, 51 anos, que marchou com o marido e outros 10 integrantes da família. Ele confessou nunca ter participado de uma manifestação política.

Obrador provavelmente será barrado da eleição se culpado ou se o julgamento se arrastar até o próximo ano. Janeiro é o último mês para o registro como candidato.

Analistas e cidadãos dizem que a crise já minou a jovem democracia mexicana, cinco anos depois da eleição histórica de Fox. Ela acabou com sete décadas de um regime autoritário com um único partido.

- Fox mentiu para nós. Ele é igual aos outros. O presidente não quer Obrador e está obcecado em se livrar dele - disse o comerciante Manuel Benitez.

O presidente insiste que está apenas permitindo que a Justiça cuide do caso e que nenhum político, por mais popular que seja, está acima da lei.

As políticas gastadoras, retórica furiosa e estilo combativo de Obrador preocupam líderes da indústria e investidores, que receiam a chegada de um governo populista no México, grande exportador de petróleo e parceiro comercial dos EUA.