Correio Braziliense, n. 21452, 10/12/2023. Política, p. 2
Inflação emperra reação econômica
Ao projetar o próximo ano, o secretário de Políticas Econômicas, Adolfo Sachsida, afirmou que pelo menos três indicadores da economia brasileira terão perspectivas positivas: o investimento privado, o cenário externo e o mercado de trabalho, com destaque especial para o último ponto. “Com a vacinação em massa e o retorno seguro ao trabalho, uma parcela expressiva de trabalhadores deve ingressar no mercado nos próximos 12 meses”, delineou.
O otimismo de Sachsida contrastou com a visão de economistas convidados para o Correio Debate. Eles alertaram para os perigos de uma velha conhecida dos brasileiros: a inflação. “No Brasil, a questão da inflação é sempre complicada. Somos um país com um passado inflacionário, então eu acho que faltou zelo na calibragem das políticas públicas. O efeito do auxílio emergencial foi muito importante. Mas acho que, de forma geral, a gente errou na calibragem, na quantidade e na forma de como foi feita”, observou a economista Zeina Latif.
O receio em relação à inflação também permeou a fala do ex-diretor do Banco Central (BC) Tony Volpon, estrategista da Wealth High Governance — WHG. Ele disse que o avanço da vacinação, com reflexos na retomada da economia, deveria ter levado o Banco Central a uma reavaliação da política monetária. “Quando os resultados das vacinas saem, os mercados reagem rapidamente, e estavam apontando para uma rápida reabertura das economias”, aponta. “O estrago já estava feito”, observou.
Outro ponto de atenção trazido no debate é a falta de âncora fiscal. A economista-chefe do Credit Suisse, Solange Srour, lembrou que a regra constitucional que limita o aumento de despesas à inflação do ano anterior foi modificada com a PEC — para aumentar o espaço de gastos do governo — antes do prazo previsto, 2026.
Para Srour, após a mudança na única âncora fiscal vigente, “ela não perdura em governos diferentes”. A projeção é de que 2022 será um ano de desafios. “Vamos passar por um ano bem complicado. Será preciso uma nova agenda, que é a volta da agenda pré-pandemia”, afirmou.
Lado a lado com a discussão econômica, anda também, em relação a 2022, a preocupação sobre a preservação dos recursos naturais. A assessora do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA), Adriana Ramos, comentou sobre a situação da Amazônia, que em agosto teve a maior área desmatada para um mês em 10 anos. Ela criticou a atuação do Legislativo e Executivo, defendendo que o governo ignora o tema. “O que a gente tem visto é o país praticamente advogando um direito de desmatar”, condenou.
Nesse contexto, a questão energética ganha especial relevância. “Metade da nossa inflação é de energia, seja energia elétrica ou combustíveis. Não fosse a disparada desses dois itens nos índices de inflação, seguramente a economia estaria passando por um momento melhor”, afirmou Fábio Bentes, economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). (TM)