Título: Aposentados caem no conto do empréstimo
Autor: Kelly Oliveira
Fonte: Jornal do Brasil, 25/04/2005, Brasília, p. D6

Vigaristas aproveitam fragilidade emocional ou recorrem à fraude para acessar empréstimo em consignação nas contas

A aposentada Raimunda Joana da Silva, 82 anos, passou a ganhar somente R$ 190 por mês, depois que aderiu ao empréstimo com desconto no benefício de um salário mínimo. Raimunda caiu no golpe de Antônio Marcelo da Silva, ex-dono do Centro de Apoio à Terceira Idade (Cadi), que ficava localizado no Riacho Fundo II. Antônio Marcelo pediu à aposentada que fizesse o empréstimo para que ele quitasse as parcelas, todo mês. Entretanto, desde que Raimunda fez o empréstimo, ele nunca mais entrou em contato com a aposentada. A ouvidora do Ministério da Previdência, Neiva Maciel, orienta os aposentados sobre os cuidados, na hora de fazer um empréstimo. O primeiro passo é só fazer o empréstimo em bancos conveniados.

- É necessário que o idoso seja esclarecido, para não se deixar fraudar por terceiros. O aposentado ou pensionista deve ter muito cuidado com o cartão de benefício e com a senha, não fornecendo essas informações para ninguém - orienta a ouvidora.

A aposentada Raimunda diz não lembrar onde foi feito o empréstimo e o qual o valor total. Ela conta que precisa do apoio dos vizinhos e da família para conseguir pagar as contas. Só com aluguel, ela gasta R$ 150 reais por mês.

Raimunda morou no Cadi durante dois anos. Nesse tempo, Antônio Marcelo, proprietário do asilo, conseguiu ganhar a confiança da aposentada e de mais doze idosos que moravam no asilo. Mas em dezembro do ano passado, o asilo foi fechado pela Secretaria de Fiscalização de Atividades Urbanas e pelo Ministério Público do Distrito Federal (MPDF), por não apresentar condições de higiene e infra-estrutura. A casa, onde funcionava o asilo tinha pouco espaço, contava com alvará de funcionamento irregular e não tinha licença sanitária, segundo o promotor de Defesa do Idoso e do Portador de Deficiência do Ministério Público do DF, Vandir da Silva Ferreira.

- Encontramos ainda alimentos no chão e baratas em cima do bebedouro - conta o promotor.

Mesmo depois que a casa foi interditada, Antônio Marcelo continuava a visitar aposentada Raimunda, que passou a morar em quarto alugado, no Riacho Fundo II. Ela conta que Antônio Marcelo prometia conseguir uma vaga em outro asilo, mas a promessa nunca foi cumprida. Em fevereiro desse ano, com a desculpa de que iria levá-la para conhecer outra casa de apoio ao idoso, Marcelo levou Raimunda com o cartão de benefício e senha a um banco para fazer um empréstimo.

- Ele me disse que precisava de dinheiro para trocar o telhado de sua casa e me pediu para fazer o empréstimo para ele - afirma a aposentada.

A filha de Raimunda Joana, Francisca Raimunda Batista, 51 anos, conta que ficou desconfiou da atitude de Antônio Marcelo, quando ele foi visitar a aposentada, em fevereiro.

- Quando ele veio aqui, trouxe um pouco de carne e cigarro. Sabia que ele estava planejando alguma coisa, porque levou o cartão do banco. Só depois, descobrimos que ele tinha feito o empréstimo - conta a filha de Raimunda.

Segundo a aposentada, o antigo proprietário do Cati costumava ainda tomar empréstimos entre R$ 20 e R$ 50, por mês, quando ela morava no asilo, mas nunca devolveu o dinheiro. Além desses valores, sempre que a irmã de Marcelo, apelidada de Loênia, ia receber o dinheiro da aposentadoria de dona Joana, ela cobrava pelo serviço, conta Raimunda.

- Ela pegava o dinheiro de passagem de ônibus e mais algum valor, mas não sabemos muito bem quanto - acrescenta Francisca Raimunda.

O promotor esclarece que os asilos podem cobrar contribuições dos idosos, desde que a cobrança esteja registrada em um contrato, o que não foi o caso de Raimunda.