O Estado de S. Paulo, n. 46607, 26/05/2021. Metrópole, p. A19
Perguntas & Respostas - Tire as dúvidas sobre Coronavac
A menor efetividade da Coronavac em idosos acima de 80 anos, apresentada em um estudo divulgado na sexta-feira, já levanta a discussão sobre a necessidade de revacinação desse grupo ainda neste ano, como mostrou o Estadão ontem. Mas o que isso realmente significa e qual a real necessidade de vacinação? Especialistas esclarecem abaixo as principais dúvidas.
1. O que o novo estudo apontou sobre a efetividade da Coronavac?
A pesquisa mostrou que, na média, a efetividade após 14 dias da segunda dose ficou em 42% no grupo de idosos acima de 70 anos, variando de 61,8% (70 a 74 anos) a até 28% (80 anos ou mais). Na faixa etária dos 75 aos 79 anos, a taxa ficou em 48,9%.
2. Esses índices diferem dos encontrados nos testes clínicos?
Os testes clínicos da Coronavac no Brasil demonstraram eficácia geral de 50,7%, podendo chegar a 62%, se o intervalo entre a primeira e a segunda dose for igual ou superior a 21 dias. Na maioria das faixas etárias, portanto, a efetividade em idosos foi superior ou muito similar à eficácia verificada nos estudos clínicos. A maior preocupação é sobre o grupo de idosos maiores de 80 anos.
3. Qual é a efetividade da Coronavac contra hospitalizações e mortes de idosos?
Os dados apresentados na sexta-feira referem-se à taxa de proteção global da vacina, ou seja, à efetividade dela contra qualquer grau de covid-19 sintomática entre idosos. Ainda estão sendo analisados os dados de efetividade contra internações e óbitos em pessoas maiores de 60 anos. Esse novo estudo deve ser apresentado dentro de um mês pelo grupo de pesquisa Vebra Covid-19. Estudo a respeito feito no Chile e divulgado no mês passado apontou 80% de proteção da Coronavac contra mortes e 85% contra hospitalizações, considerando o período de 14 dias após a segunda dose. Os dados do estudo chileno, porém, não foram detalhados por faixa etária.
4. Como esses dados devem afetar o esquema atual de vacinação?
A menor efetividade da Coronavac entre idosos mais velhos já abriu um debate sobre a necessidade de aplicação de uma dose de reforço ou novo esquema vacinal para maiores de 80 anos. Parte dos cientistas acredita ser necessário aguardar dados que avaliem o desempenho do imunizante sobre as internações e os óbitos de idosos para decidir sobre a necessidade de revacinação. Outra parte dos especialistas acredita que a oferta de um reforço será inevitável e deva ocorrer ainda neste ano.
5. O tema deve ser levado ao Ministério da Saúde?
Infectologista da Fiocruz e autor do estudo, Julio Croda afirmou que os dados do estudo foram compartilhados com o ministério e a pasta estuda a necessidade de revacinação desse grupo. Membro do grupo de especialistas independentes que assessora o ministério nos temas de vacinação, o imunologista Jorge Kalil, professor da Faculdade de Medicina da USP, afirma que o tema já começou a ser discutido informalmente entre os cientistas do comitê e deve ser levado para debate no ministério.
6. Podemos cogitar a necessidade de uma vacina mais efetiva a maiores de 80?
Kalil defende a ideia de oferecer uma dose de reforço ou uma vacina mais efetiva aos maiores de 80 anos assim que possível, mas admite que o debate depende da disponibilidade de imunizantes.
7. Qual é a orientação para quem já tomou ou vai tomar a Coronavac?
A Coronavac confere uma proteção superior a 60% a pessoas com menos de 75 anos e deve continuar sendo usada normalmente na campanha. Aos idosos com 75 anos ou mais, apesar de a vacina conferir menor proteção, ela continua sendo importante para diminuir o risco de hospitalizações e mortes – o índice exato de proteção deverá ser conhecido em breve. Para todos os públicos, especialmente para os mais velhos, é essencial manter as medidas protetoras contra o coronavírus, como uso de máscara.
8. Sou idoso, tomei a 1ª dose da Coronavac. Devo manter os planos e tomar a 2ª?
Sim. A eficácia observada nos estudos só é alcançada 14 dias depois da segunda dose. Procure a segunda aplicação na data agendada pelo posto de saúde e, se ela estiver atrasada, coloque a dose em dia assim que o imunizante estiver disponível na sua cidade.
9. Apenas uma dose não confere proteção?
O estudo sobre a efetividade em idosos brasileiros mostra ainda que a Coronavac não conferiu nenhuma proteção com apenas uma dose, dado especialmente preocupante diante do número de brasileiros sem esquema vacinal completo – 4,5 milhões. O estudo revela ainda que, entre o 1.º e o 13.º dia após a segunda aplicação, a proteção é de 18%.
10. Qual o número de idosos com mais de 80 anos já vacinados?
Segundo dados do Ministério da Saúde, ao menos 4,2 milhões de idosos acima dos 80 anos já receberam ao menos uma dose da vacina contra a covid-19. A maioria tomou Coronavac.
11. O que sabemos sobre a mistura de doses na imunização contra a covid-19?
A Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda a mistura de vacinas diferentes. Ainda não há estudos definitivos sobre as possíveis consequências dessas combinações, mas uma pesquisa preliminar publicada na semana passada mostrou que a combinação das vacinas da Pfizer e de Oxford/astrazeneca é eficaz e segura, mas os dados ainda precisam ser confirmados. De qualquer forma, na hipótese de idosos com 80 anos ou mais serem revacinados com duas doses de outra vacina em um novo esquema vacinal, isso não seria considerado uma mistura, já que não houve combinação de imunizantes diferentes em um mesmo esquema (1.ª e 2.ª dose).
12. A eventual revacinação de idosos que tomaram Coronavac é segura?
A aplicação de uma terceira dose de reforço da Coronavac não deverá apresentar problemas porque a vacina se mostrou segura e o intervalo entre a segunda e a terceira dose seria de meses. No caso da aplicação de outra vacina, especialistas dizem que é preciso validar o método, mas acreditam que também não haverá riscos pelo fato de a revacinação ocorrer meses depois.
13. Tenho 80 anos ou mais e tomei a Coronavac. Posso procurar doses de outro imunizante?
Não. Os idosos já vacinados não têm no momento nenhuma recomendação nem autorização para receberem doses de outro fabricante. A recomendação principal às pessoas desse grupo populacional é manter as medidas de proteção contra o coronavírus.