Correio Braziliense, n. 21479, 06/01/2022. Brasil, p. 4

Vacina para 5 a 11 anos sem prescrição
Raphael Felice


O Ministério da Saúde recuou da exigência de prescrição médica e autorizou a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a covid-19. De acordo com a pasta, as duas doses devem ser aplicadas no intervalo de oito semanas, superior aos 21 dias especificados na bula do imunizante da  Pfizer, o único liberado até agora para essa faixa etária. Segundo a secretária extraordinária de  Enfrentamento à Covid-19, Rosana Leite Melo, o maior período de intervalo provoca uma resposta  imunológica melhor e previne as raras reações adversas.

Conforme informações do ministério, o primeiro lote de vacinas, com 1,248 milhão de doses,  chegará ao Brasil no próximo dia 13. A intenção é de que a distribuição aos estados comece no dia seguinte. Até o fim do mês, o  país receberá 3,7 milhões de unidades.

A pasta, no entanto, não anunciou a data do início da imunização. Pelo cronograma, o atendi mento será em ordem decrescente, ou seja, de crianças mais velhas para as mais novas. A  prioridade será para as que têm comorbidades ou deficiências permanentes (veja quadro). De acordo com estimativa do governo, há 20 milhões de crianças nessa faixa etária.

Mesmo não exigindo a prescrição, o ministério orienta que os pais procurem a recomendação  prévia de um médico antes da imunização. A única obrigatoriedade será a presença de pais ou  responsáveis no momento da vacinação, como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Caso outra pessoa conduza a criança para o posto de vacinação, terá de portar uma  carta do responsável legal autorizando a aplicação da dose.

“Não é o grupo que tem maior mortalidade, mas toda a vida é importante, principalmente das nossas  crianças”, disse o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante o anúncio.

Dispensar a prescrição médica vai ao encontro do que era defendido pelos conselhos nacionais de  secretarias estaduais de saúde (Conass) e secretarias municipais de saúde (Conasems), além da  maioria dos que participaram de consulta pública aberta pela pasta.

A vacina da Pfizer destinada a crianças de 5 a 11 anos é diferentes da aplicada em adulto,  conforme enfatizou Queiroga. “Essa faixa etária merece uma ênfase especial, até porque esse  público precisa ser atendido por vacina específica. E essa tem dosagem equivalente a 1/3 da vacina  aplicada nos adultos”, destacou. “Isso foi testado em ensaios clínicos e logrou sucesso em  agências sanitárias respeitáveis a exemplo do FDA (Food and Drug Administration dos Estados Unidos), a exemplo  da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e, agora, a Anvisa atestou a segurança regulatória”,  acrescentou.

A autorização de vacinação para crianças ocorre em meio à resistência do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus aliados à imunização dessa faixa etária. Antes de liberar, o ministério criou  mecanismos que postergaram a decisão sobre a aplicação dos imunizantes, com a criação de  consulta e audiência pública sobre o tema, que já havia sido autorizado pela Agência Nacional  de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 16 de dezembro e chancelado por especialistas e pela experiência internacional.

Segundo o Ministério da Saúde, a maioria das pessoas que participou da consulta pública foi  contrária à obrigatoriedade de prescrição.(Com Agência Estado).