Título: Lula critica juros como única forma de combater inflação
Autor: Leila Youssef
Fonte: Jornal do Brasil, 30/04/2005, País, p. A2

Na primeira entrevista coletiva que concedeu, depois de quase dois anos e meio de mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou uma das principais bases da política econômica de seu governo. Ele admitiu que um dos erros da administração é deixar que os juros altos sejam o único meio de combate à inflação e acabou lançando um mistério no ar diante dos 178 profissionais de imprensa, entre cinegrafistas, repórteres, fotógrafos e auxiliares que registravam a entrevista. Lula insinuou que o governo tem planos alternativos de controle da inflação. ¿ Eu ouvi de um homem mais sábio do que eu a seguinte frase: ¿Lula, nem tudo que você pode fazer na economia, você pode avisar antes, porque, se avisar, não faz¿ ¿ Esse homem foi o doutor Ulysses Guimarães.

E prosseguiu, enfático: ¿ Estou convencido de que os juros não podem ser o único instrumento para controlar a inflação ¿ disse, fazendo questão de garantir, no entanto, que não surpreenderá a população com planos econômicos como aconteceu no passado.

O presidente chegou para a entrevista, no Palácio do Planalto, ladeado pelo vice-presidente José Alencar e pelo ministro de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken. Munido de uma pasta azul, com vários documentos que lhe serviriam de base para algumas respostas, o Lula da entrevista fez lembrar o seu tempo de candidato à Presidência da República. Estava de bom humor, mas acabou sendo beneficiado com algumas perguntas muito mais para o lado econômico do que político. Usou e abusou de metáforas e disse que anda dormindo bem.

Mas, apesar de demonstrar tanta insatisfação com os juros, o presidente rasgou elogios ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e foi além, afirmando que ele e o ministro ¿são unha e carne¿.

A entrevista do presidente serviu também para mostrar que, apesar das denúncias que andam rondando o Planalto, tanto o ministro da Previdência, Romero Jucá, como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, estão com seus empregos garantidos e são inocentes, até que se prove o contrário. O presidente foi mais enfático no caso de Meirelles, investigado por lavagem de dinheiro, sonegação e evasão de divisas. Com relação ao ministro Jucá, acusado de forjar patrimônio para obter empréstimo, Lula disse que, antes de ser nomeado, o peemedebista lhe relatou as acusações, o levou uma série de documentos, mostrando o que já tinha feito para provar sua inocência.

Além da questão dos juros altos, o presidente Lula reconheceu ontem que seu governo cometeu mais dois erros nesses 850 dias de gestão: não ter conseguido fazer as obras nas rodovias brasileiras e não ter tido uma participação maior na sucessão da Câmara que acabou elegendo Severino Cavalcanti para a presidência da Casa. Poucos antes, Lula havia garantido que Severino era um ¿aliado¿. Isso, apesar de o presidente da Câmara ocupar o noticiário com ataques ao governo, comparando-o, inclusive, com os tempos sombrios da ditadura.

Depois das 14 perguntas a que respondeu, Lula não deu a resposta que os militares esperavam. Não foi claro quanto ao reajuste da categoria, mas defendeu a aplicação ds políticas sociais do governo e repetiu várias vezes que vem fazendo o que está a seu alcance.