Título: Unidos para derrubar as taxas
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 29/04/2005, País, p. A3

Alencar e Severino se reúnem para tratar de juros. Vice-presidente volta atrás e diz que é contrário a mudanças no Copom

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), declarou ontem que foi o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva que deu brechas para que ele e o vice-presidente, José Alencar, criticassem a taxa de juros. Para Severino, a senha foi dada após o discurso sobre as altas taxas. - Ele que nos deu abertura para sermos seu intérprete, ao dizer que não podemos ficar sentados. Queremos ajudá-lo - justificou Severino.

O deputado reuniu-se na tarde de ontem por mais de uma hora com Alencar. Após o encontro, o presidente da Câmara lembrou as semelhanças de sua história com a do vice-presidente, alertando que ambos estão dispostos a seguir na briga pela redução da taxa de juros.

- Somos dois homens de bem, que pensamos no futuro do país. Não podemos deixar que o Banco Central continue dando dinheiro para os banqueiros - acrescentou.

Severino, no entanto, não tocou mais na proposta de alterar a composição do Comitê de Política Monetária (Copom). Pode ter sido alertado do equívoco pelo próprio Alencar que, durante visita ao Senado na manhã de ontem, afirmou que se equivocara quanto às declarações de Severino. O vice-presidente se disse contrário à alterações no Copom, órgão técnico que define a taxa básica de juros visando ao cumprimento da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

- Eu defendo a ampliação do CMN, que ganharia cerca de cinco novos representantes, de diferentes regiões do País, entre eles trabalhadores e empresários - sugeriu.

O mesmo entendimento é defendido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e pelo líder do PT no Senado, Delcidio Amaral (MS).

- Nunca tive nada contra o Copom. Não estou preocupado com meio ponto percentual a mais ou a menos na Selic, mas na definição da política de juros - declarou Alencar.

Em tom de brincadeira, o vice-presidente acrescentou que conheceu apenas ontem os integrantes do Copom, por meio das páginas do Jornal do Brasil de ontem.

Quem também aproveitou para criticar a proposta de Severino foi o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Para ele, é um erro sugerir a participação do Congresso na definição da política de juros do governo.

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Palocci respondeu com críticas a proposta de tirar do Copom a exclusividade nas decisões sobre o juro básico.

- Eu penso que as próprias lideranças do Congresso Nacional... entenderam que essas alternativas estariam na contramão do que acontece no mundo todo hoje - disse o ministro .