O Globo, n. 32804, 31/05/2023. Economia, p. 20

Tebet diz ver espaço para baixar juros em 0,25 ponto em agosto

Manoel Ventura


A ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou ontem que há espaço para o Banco Central cortar os juros em 0,25 ponto percentual na reunião de agosto do Comitê de Política Monetária (Copom). A Taxa Selic, hoje de 13,75% ao ano, tem sido alvo de fortes críticas do governo.

Uma das razões que permitiria o corte, disse Tebet, é o avanço do arcabouço fiscal no Congresso e a reação positiva do mercado às novas regras que vão substituir o teto de gastos. O Copom se reúne este mês, e a ministra espera que o comunicado sinalize uma queda de juros no curto prazo.

— Não há justificativa no segundo semestre, já em agosto, a não ser que surja um fato relevante novo, de pelo menos não sinalizar uma queda da taxa de juros no médio prazo. Por exemplo, diminuindo em 0,25 (ponto percentual) na reunião do Copom de agosto deste ano — disse Tebet ao participar de mais uma edição do “E agora, Brasil?” sobre o projeto do novo arcabouço fiscal.

Cenário favorável

O evento é uma realização dos jornais O GLOBO e Valor Econômico, com patrocínio do Sistema Comércio através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas federações. O debate também contou com a participação do secretário executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo.

A ministra afirmou que o cenário atual é melhor do que quando o BC subiu os juros para o atual patamar:

—Todos os fatores macroeconômicos, o arcabouço fiscal, a estimativa do PIB e a desaceleração da inflação são fatores muito distintos do que os que levaram o Banco Central a elevar os juros a 13,75%. Hoje não temos nada disso.

Galípolo, por sua vez, ressaltou que as taxas de juros de longo prazo do mercado já recuaram depois de a Câmara aprovar o arcabouço fiscal:

— Quando olho para o mercado e para o preço dos ativos, desde a divulgação do arcabouço, a taxa de juros longa vem cedendo e tem uma projeção para o médio prazo de taxas de juros do mercado. O câmbio atingiu um novo patamar.

O secretário também citou uma conversa com o presidente do BC para afirmar que não há risco de uma trajetória explosiva da relação dívida bruta e PIB:

—As projeções que a gente tem feito, como foi dito até pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é que aquele risco que existia de uma trajetória explosiva da relação dívida/PIB foi afastado a partir do anúncio do novo regime fiscal.

Confiança no Senado

No evento, Tebet disse ainda que será preciso cortar entre R$ 32 bilhões e R$ 40 bilhões de despesas discricionárias (não obrigatórias) em 2024 por causa da forma como o arcabouço fiscal foi aprovado na Câmara. Entre essas despesas, citou inclusive emendas parlamentares.

Segundo Tebet, esse corte é necessário para cumprir pisos de despesas obrigatórias, como saúde e educação:

— O arcabouço ficou mais restritivo no que refere a gastos. O novo teto, aumentando ou não a receita, eu vou ter (corte), isso é oficial. Nos parâmetros de hoje, eu teria que cortar de despesas discricionárias algo em torno de R$ 32 bilhões, podendo chegar a R$ 40 bilhões com uma simples alteração que o relator fez.

A ministra disse estar confiante de que o Senado vai aprovar o texto.