O Estado de S. Paulo, n. 46613, 01/06/2021. Política, p. A9
Patriota filia Flávio e agora quer Bolsonaro
Lauriberto Pompeu
O senador Flávio Bolsonaro se filiou ontem ao Patriota e indicou que o
presidente Jair Bolsonaro, em campanha pela reeleição, seguirá o mesmo caminho.
Embora o presidente não tenha anunciado seu novo partido, a filiação é dada
como praticamente certa e já provocou racha interno. Integrantes do Patriota
entraram com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alegando que mudanças
promovidas às pressas no estatuto da legenda tiveram como único objetivo
beneficiar a família Bolsonaro.
Flávio
participou da convenção nacional do Patriota por videoconferência. Na semana
passada, ele deixou o Republicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino
de Deus, dizendo que se filiaria ao mesmo partido a ser escolhido pelo pai. Em
seu discurso, o senador elogiou o Patriota e afirmou ter a certeza de que vão
“caminhar juntos” para a campanha de 2022, construindo “o maior partido do
Brasil”.
O
senador observou que o PSL, antiga sigla da família Bolsonaro, tinha apenas um
deputado antes da disputa de 2018.
“Após
as eleições, fizemos uma bancada com 52 deputados. Agora, com o presidente
Bolsonaro na Presidência da República, não tenho dúvida de que a gente pode
construir um partido maior ainda, até maior que o próprio PSL. Tem espaço para
todo mundo”, afirmou ele.
Na
convenção, o presidente do Patriota, Adilson Barroso, comemorou a filiação de
Flávio e falou como se Bolsonaro já tivesse assinado a ficha. “Vamos ser
grandes. Ele (Bolsonaro) vem hoje para o partido sem pedir uma bala. Aqui no
Patriota ele confia em mim, e não quer nada de nós”, disse Barroso.
Apesar
da declaração de que Bolsonaro não fez exigências, Barroso pretende fazer uma
espécie de “intervenção” para mudar o comando de diretórios estaduais, com o
objetivo de abrigar o grupo político de Bolsonaro. Mas a ação enfrenta forte
resistência do deputado federal Fred Costa (Patriota-mg) e do vice-presidente
do partido, Ovasco Costa. “Sou contra o golpe
rasgando o regimento”, afirmou Fred ao Estadão .Em uma
reunião rápida, Barroso pôs em votação a possibilidade de filiação de
Bolsonaro. “Alguém aqui tem alguma coisa contra ou todos são a favor?”, perguntou ele para a cúpula do partido. Uma parte
dos dirigentes do Patriota estava de pé e outra, sentada. Não houve discussão.
“Isso não é forma de votação, Adilson”, disse um dos dirigentes. “É golpe.”
Logo
em seguida, Barroso aprovou, às pressas, o novo estatuto do Patriota, que abre
caminho para uma candidatura própria à Presidência, e anunciou o aumento dos
integrantes do diretório e da Executiva e a filiação de Flávio como “líder do
Patriota na Câmara dos Deputados”.
Alertado
de que o filho de Bolsonaro é senador, ele se corrigiu: “Aliás, no Senado. Ele
é nosso grande líder no Senado. Não estou rebaixando, não”.
O
TSE recebeu a ação para suspender a mudança do estatuto do partido, mas ainda
não julgou o pedido. Flávio ignorou o racha interno e elogiou o comando do
Patriota. “Fico feliz de ver que muitos estão deixando a vaidade de lado, o
posicionamento dentro do partido de lado, em prol dos princípios que estão
escritos no estatuto que ajudei a colocar”, destacou.
Negociação.
Desde que deixou o PSL, em novembro de 2019, Bolsonaro sofreu vários reveses.
Anunciou a criação de um partido, o Aliança pelo Brasil, mas não conseguiu as
491.967 assinaturas necessárias para tirá-lo do papel. Após uma ruidosa briga
com o PSL, ele negociou a entrada em nove partidos – entre os quais PTB, PRTB,
Republicanos e Progressistas –, mas nenhum aceitou lhe dar carta-branca. Para
se filiar, Bolsonaro exige o controle dos diretórios e do caixa do partido.
O
Patriota ficou em 22.º lugar no ranking das siglas que receberam fundo eleitoral
em 2020, com R$ 24,5 milhões. Pelo Orçamento de 2021, aprovado pelo Congresso e
sancionado pelo presidente, a legenda terá R$ 22,4 milhões de Fundo Partidário
para usar neste ano. No Congresso, a sigla possui seis deputados e, agora, um
senador.