O Estado de S. Paulo, n. 46613, 01/06/2021. Política, p. A10

PGR pede ao Supremo que abra inquérito contra Salles

Rayssa Motta
Fausto Macedo


A Procuradoria-geral da República (PGR) enviou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de abertura de inquérito para investigar o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. A solicitação, assinada pelo vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, teve origem na notícia-crime apresentada pelo delegado Alexandre Saraiva, ex-chefe da Polícia Federal no Amazonas, que acusou Salles de obstruir investigação ambiental e favorecer madeireiros investigados pela corporação. Saraiva acabou deixando o cargo após a apresentação da notícia-crime.

“Indicaram-se, naqueles autos, diversos episódios de atuação desses servidores em descompasso com as recomendações técnicas, com o objetivo de promover a regularização de cargas exportadas irregularmente e apreendidas pelas autoridades norte-americanas. Tal cenário evidencia, de forma ampla, a necessidade de aprofundamento investigativo dos fatos”, diz um trecho da manifestação da Procuradoria.

A relatora do caso no Supremo é a ministra Cármen Lúcia.

Foi ela quem pediu, há pouco mais de um mês, para a Procuradoria-geral da República avaliar se havia indícios suficientes de crime que justificassem a abertura do inquérito. Na ocasião, a ministra apontou “gravidade incontestável” nas acusações contra Salles.

No requerimento enviado ao Supremo, a PGR já pediu autorização para convocar depoimentos do ministro do Meio Ambiente, de proprietários rurais e de agentes de fiscalização do Ibama e da Polícia Federal envolvidos na Operação Handroanthus GLO, que mirou extração ilegal de madeira na Amazônia no fim do ano passado. Cármen Lúcia também quer sinal verde para acessar a cópia dos procedimentos de fiscalização e investigação que ensejaram a operação.

Segundo o delegado Alexandre Saraiva, o ministro do Meio Ambiente “patrocina diretamente interesses privados” de madeireiras e integra uma organização criminosa na condição de “braço forte do Estado”.

O Ministério Público Federal quer investigar se Salles cometeu advocacia administrativa, dificultou fiscalizações ambientais e embaraçou a investigação de infrações penais envolvendo organização criminosa.

Na época da apresentação da notícia-crime, o Ministério do Meio Ambiente informou que daria a resposta “em juízo.”