O Estado de S. Paulo, n. 46613, 01/06/2021. Metrópole, p. A14

Serrana reduz mortes em 95%; controle se dá com 75% da população vacinada

Fabiana Cambricoli


A vacinação em massa da população de Serrana com a Coronavac diminuiu em 95% o número de óbitos por covid19 na cidade do interior paulista, conforme resultados preliminares de estudo feito pelo Instituto Butantan. Segundo a pesquisa, o controle da transmissão no município se deu quando 75% da população elegível estava vacinada, o que indica que esse é o porcentual necessário para frear o vírus no País. O imunizante também se mostrou efetivo para evitar hospitalizações e mortes entre idosos maiores de 70 anos.

De acordo com dados apresentados pelo diretor médico de pesquisa clínica do Butantan, Ricardo Palacios, o número de hospitalizações e mortes na faixa etária superior aos 70 anos foi reduzido a zero após a semana epidemiológica 14 (meio de abril), quando 95% dos adultos de Serrana já estavam vacinados. Foram registradas apenas uma morte e uma internação nessa faixa etária, mas entre indivíduos não imunizados. Antes da conclusão da vacinação de toda a cidade, o número de registros chegou a cinco por semana nesse grupo populacional.

Os dados preliminares foram divulgados pelo Fantástico, da TV Globo, anteontem, e confirmados pelo Estadão. A incidência de casos sintomáticos por 100 mil habitantes caiu 80% e a de internações foi reduzida em cerca de 86%. Esses índices comparam os números observados entre as semanas epidemiológicas 6 e 14 (7 de fevereiro a 10 de abril), quando a aplicação da segunda dose foi concluída na cidade, aos dados das semanas 15 a 19 (11 de abril a 15 de maio), quando toda a população adulta já estava vacinada.

Os dados absolutos não foram detalhados, mas o Butantan explicou que eles serão publicados em artigo científico futuramente. Um dado parcial apresentado pelo instituto mostrou que o número de hospitalizações considerando todas as faixas etárias foi de 43 no período entre a aplicação das duas doses, caiu para 5 no período que a população tinha recebido a segunda dose há menos de duas semanas e baixou para 2 internações quando já se passavam mais de 14 dias da segunda aplicação, quando o imunizante alcança a eficiência máxima. Já o total de óbitos nos três períodos mencionados foi de 7, 1 e zero, respectivamente.

Segundo Palacios, os dados demonstram o efeito também indireto da campanha de vacinação em massa na proteção até dos não vacinados. “Isso reflete o somatório do efeito direto e indireto da vacina, ou seja, entre as pessoas que recebem a vacina e o efeito indireto da redução da transmissão do vírus. O efeito da vacina é tão forte que ele consegue proteger aqueles que não foram vacinados em idades mais avançadas”, declarou.

Para o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, o resultado da pesquisa indica que não há necessidade de revacinar ou dar dose de reforço a idosos que receberam a Coronavac. “Esses resultados (de estudos que indicam menor efetividade da vacina em idosos com mais de 80 anos) são preliminares, de bancos de dados. Aqui não, aqui a realidade foi estudada, as pessoas foram acompanhadas, então fiquem tranquilos”, disse.

De acordo com o diretor, isso vale também para as crianças e adolescentes, que não podem ser vacinadas porque estudos em menores de idade ainda estão sendo realizados. O Butantan verificou queda nas hospitalizações de menores de 18 anos após a imunização em massa. “Vacinar os adultos vai criando uma barreira de proteção nas crianças. Esse dado é extremamente importante para a retomada das aulas. Vemos que não será necessário vacinar as crianças para poder retomar as atividades escolares.”

Ainda segundo a pesquisa do Butantan, o controle da pandemia no município se deu quando 75% da população elegível estava vacinada, o que indica que esse é o porcentual de imunizados que precisaríamos ter no País. No momento, com a campanha nacional de imunização em ritmo lento, o Brasil tem 21% de vacinados com a primeira dose, dos quais apenas 10% receberam também a segunda aplicação. “Os resultados demonstram de maneira categórica o que poderia estar acontecendo no Brasil inteiro não fosse o atraso na vacinação. Demonstra que só existe um caminho para controlar a pandemia no Brasil: vacina, vacina e vacina para todos os brasileiros”, disse o governador João Doria durante a coletiva.

Variante. Os pesquisadores do Butantan destacaram que o estudo também demonstra efetividade da Coronavac contra a variante P.1, uma vez que o período dos estudos coincide com o momento que a cepa se tornou predominante no interior do Estado. Para comprovar que o desempenho de Serrana não foi decorrente apenas de uma melhora no cenário epidemiológico, o Butantan comparou os dados do município com o de 15 cidades vizinhas. A maioria desses locais registrou alta no número de infectados e alguns, como Brodowski, está à beira do colapso no sistema de saúde.

Antes da realização da pesquisa em Serrana, o município precisou realizar um censo para ter o número exato de moradores por faixa etária. O inquérito mostrou população de 45.644 pessoas, das quais 28.830 têm 18 anos ou mais, grupo considerado público-alvo da pesquisa. Destes, 27.160 receberam as duas doses da Coronavac, o equivalente a uma adesão de 95,7%.