Título: Chávez e Fidel se unem contra EUA
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Fonte: Jornal do Brasil, 29/04/2005, Internacional, p. A9

Presidentes lançam a Alba, proposta de união econômica no continente, que exclui Washington

Brasília ¿ AFP O presidente deposto do Equador Lucio Gutiérrez chega ao Hospital das Forças Armadas, onde foi internada sua mulher na quinta-feira

HAVANA - Em meio às críticas da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, aos governos venezuelano e cubano, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, deu início ontem a uma viagem de dois dias a Cuba. O objetivo é enviar um recado a Washington, aumentando o intercâmbio entre os dois países e lançando uma proposta de união econômica no continente que exclui os Estados Unidos, a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba). O projeto é uma oposição ao Acordo de Livre Comércio das Américas (Alca), patrocinado pelo governo americano.

Na quarta-feira à noite, na Colômbia, Rice disse que os estreitos vínculos entre Caracas e Havana aumentaram a preocupação em Washington ante um possível ''impacto negativo'' dessa situação no hemisfério.

- As atividades venezuelanas na região podem ser desestabilizadoras - advertiu.

Sobre o regime cubano, Rice afirmou que é um exemplo de que ''abandonar o governo da lei pelo dos governantes só conduz à opressão de inocentes''.

Na Venezuela, o ministro da Informação Andres Izarra disse em Bogotá que a missão de Rice na América do Sul ''falhará''. Segundo ele, a visita da secretária de Estado americana visa a isolar a Venezuela.

- O projeto da Alba teve início há pouco tempo e está sendo desenvolvido - comentou brevemente Chávez, durante um tour pela parte antiga de Havana, acompanhado de Fidel.

- Vamos mostrar o que é uma integração verdadeiramente justa, uma integração libertadora, uma integração em benefício dos povos - afirmou o líder cubano, de 78 anos.

Juntos, e protegidos por estritas medidas de segurança, os dois presidentes colocaram flores em um monumento ao herói da independência da América espanhola, Simón Bolivar, que inspirou o nome da proposta alternativa.

Segundo Jose Garcia, professor da Universidade Estadual do Novo México, especialista em América Latina, o projeto deve ser bem recebido pelos grupos com firme posição contra a tendência predominante na América Latina, de que o rico se torna mais rico e o pobre mais pobre.

No entanto, Garcia afirma não ter informação de qualquer outro governo ter manifestado apoio a Alba, mencionada pela primeira vez por Chávez durante outra visita à ilha, em dezembro. Hoje será realizada a primeira reunião bilateral dedicada ao acordo alternativo, da qual participarão ministros e altos funcionários de ambos os governos.

Consolidando uma aliança que preocupa cada vez mais Washington, Fidel e Chávez também assinaram uma série de novos acordos entre os dois países. Segundo um comunicado divulgado pela presidência venezuelana, os acordos incluem as áreas de energia, saúde, educação, infra-estrutura, habitação e cultura.

Pela manhã, Fidel se uniu a Chávez na inauguração do novo escritório da empresa estatal petrolífera da Venezuela, PDVSA, em Havana.

Em 2000, a Venezuela começou a vender 53 mil barris de petróleo por dia a Cuba em acordos que favoreciam a ilha. Atualmente, de acordo com a porta-voz da PDVSA, o envio de petróleo chega a 80 mil e 90 mil barris por dia.

Em troca, Havana mandou 14 mil médicos cubanos para trabalhar em hospitais públicos, em áreas mais pobres do país sul-americano. O governo de Fidel Castro também planeja abrir na Venezuela uma filial de seu banco, assim como uma cadeia de 14 lojas dirigidas pelo governo, que venderão produtos com preços subsidiados.

O intercâmbio comercial Cuba-Venezuela foi de US$ 1,5 bilhão em 2004, mas após os novos acordos a cifra deve aumentar em US$ 250 milhões, estimou o ministro cubano de Comércio Exterior, Raúl de la Nuez.