O Estado de S. Paulo, n. 46614, 02/06/2021. Política, p. A8

'Está quase certo', diz Bolsonaro sobre filiação ao Patriota

Lauriberto Pompeu


Em busca de um partido para disputar novo mandato em 2022, o presidente Jair Bolsonaro recebeu ontem o presidente do Patriota, Adilson Barroso, no Palácio do Planalto e disse que o processo de filiação ao partido “está quase certo”. A conversa durou 20 minutos e ocorreu um dia depois de o senador Flávio Bolsonaro (RJ) assinar a ficha no Patriota.

Cinco horas mais tarde, Bolsonaro foi abordado por apoiadores, na entrada do Palácio da Alvorada. Todos queriam saber sobre o seu novo partido. “Está quase certo, estamos negociando. É como um casamento: tem de ser programado, planejado, senão dá problema”, comparou ele, à noite.

Barroso também afirmou que as negociações não terminaram. O presidente vai fazer uma rodada de conversas sobre o assunto com aliados e se comprometeu a dar uma resposta a ele em no máximo 15 dias. O dirigente do Patriota disse ao Estadão que não entregará o comando da legenda para Bolsonaro, a quem definiu como “parceiro”.

“Tenho certeza de que o presidente vai falar: ‘Quero o Adilson. Ele sabe pilotar esse avião, que é o Patriota’”, declarou Barroso.

“Se ele pedir a presidência nacional do partido, vai pôr quem? Ele não vai querer ser. Além de tudo, ele é fiel, parceiro, não precisa tomar o partido, não. O partido é de nós todos.”

Apesar das declarações de Barroso, Bolsonaro já tentou ter o controle da direção nacional do Patriota, em 2017. À época, essa condição foi justamente o motivo que emperrou a sua filiação e o fez migrar para o PSL, sigla pela qual se elegeu presidente, em 2018.

Barroso, porém, culpou o exministro Gustavo Bebianno, morto em março do ano passado, pelo episódio. “Nunca foi ele (Bolsonaro) que quis me tirar da presidência nacional do partido, pois sempre confiou em mim. Foi o Bebianno que partiu para cima de tudo que é jeito porque ele queria ser presidente do partido, tanto que ele foi presidente do PSL.”

Flávio se filiou anteontem ao Patriota e indicou que seu pai, em campanha pela reeleição, seguirá o mesmo caminho. Essa possibilidade, no entanto, já provocou racha interno na sigla. Integrantes do partido entraram com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) alegando que mudanças promovidas às pressas no estatuto da legenda tiveram como único objetivo beneficiar a família Bolsonaro.

‘Maioria’. A ação enviada ao TSE é assinada pelo vice-presidente do Patriota, Ovasco Resende, pelo secretário-geral, Jorcelino Braga, e por outros seis integrantes do partido. “Sabendo-se que o presidente da República Jair Bolsonaro busca acomodar diversos apoiadores e mandatários, compete à convenção nacional do Patriota decidir democraticamente se o partido terá candidatura presidencial própria em 2022 e, em caso positivo, se é vontade da maioria que o candidato seja o presidente da República e que seus apoiadores ocupem posições no Patriota”, diz um trecho da ação.