O Estado de S. Paulo, n. 46614, 02/06/2021. Política, p. A9

Pazuello é nomeado para cargo no Planalto

Felipe Frazão
Luci Ribeiro


O presidente Jair Bolsonaro abrigou o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello em novo cargo de confiança, agora no Palácio do Planalto. O general foi nomeado ontem para função na Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência, com salário de R$ 16,9 mil. O ato foi interpretado por oficiais como manobra para blindar Pazuello e reduzir a chance de punição disciplinar.

O ex-ministro será secretário de Estudos Estratégicos na SAE, órgão ligado ao gabinete presidencial e chefiado pelo almirante Flávio Rocha. A nomeação saiu em edição extra do Diário Oficial da União, assinada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos. General de três estrelas do serviço de Intendência, especializado em logística de suprimentos, Pazuello agora será responsável por analisar cenários, promover intercâmbio de ideias com o setor privado e dar subsídios a Bolsonaro sobre assuntos estratégicos para o País.

A nomeação de Pazuello ocorre a poucos dias de o comando do Exército decidir sobre um procedimento de apuração disciplinar contra ele. No dia 23 de maio, enquanto estava apenas no Exército, Pazuello participou, no Rio, de ato político em apoio ao governo, ao lado de Bolsonaro. Chegou a subir e discursar num carro de som no Aterro do Flamengo. As normas militares proíbem a participação de integrantes da Força nesses atos.

O comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, deve ouvir pessoalmente Pazuello, depois de os argumentos de defesa do ex-ministro, remetidos por escrito em envelope lacrado, não terem convencido a cúpula. Pazuello alegou que a manifestação não teve viés político porque o presidente da República não está filiado a partido.

Oficiais avaliavam que o caso poderia ter como desfecho uma punição mais branda, a advertência verbal. Outra opção meio termo, também cogitada, seria a repreensão, espécie de censura mais enérgica, feita por escrito e publicada em boletim. Paulo Sérgio estudava aplicar uma punição de teor restrito ao Alto Comando, o que pode ser feito no caso da advertência.

A nomeação no novo cargo, porém, mudou o cenário e deve contribuir para influenciar o comandante a não aplicar punição. Em conversas reservadas, generais da ativa disseram que, se Pazuello estivesse exercendo o cargo palaciano antes de ir à manifestação bolsonarista, haveria justificativas ou ao menos atenuantes para explicar sua presença ao lado do presidente no carro de som. Em tentativa prévia de blindar Pazuello, Bolsonaro apresentou a mesma argumentação em uma live, deixando claro ser contra a punição ao ex-ministro da Saúde.

Pazuello estava como adido na Secretaria-geral do Exército, órgão burocrático, à espera de uma nova posição. Segundo oficiais que despacham no Quartel-general, havia clima de constrangimento para que ele voltasse a assumir qualquer cargo de comando da tropa por causa da vinculação política e da transgressão disciplinar.

O novo cargo deve voltar a colocar em xeque a decisão de Pazuello de não passar à reserva. Ele continua sendo pressionado a deixar o serviço ativo, mas deu indicações de que não deseja encurtar a carreira enquanto durar a CPI da Covid no Senado, da qual é alvo.