Título: Colômbia: crise militar
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Fonte: Jornal do Brasil, 29/04/2005, Internacional, p. A9

A destituição de quatro generais do Exército da Colômbia na quarta-feira pelo presidente Alvaro Uribe revelou uma divisão nas Forças Armadas do país e desatou uma série de questionamentos sobre a estratégia do presidente para manejar a guerra, fortemente golpeada pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) este ano.

A resistência a mudanças na estrutura das Forças Armadas, com a criação de comandos conjuntos que, segundo o governo, lhes tornarão mais eficazes para combater o conflito, motivou a saída dos generais, que vinham logo atrás do comandante na hierarquia.

Mas a surpreendente decisão, que colocou no olho do furacão o ministro da Defesa, Jorge Uribe, e o comandante das Forças Armadas, o general Carlos Ospina, tem também como pano de fundo disputas de poder e a dependência militar em relação aos EUA.

O modelo de comandos conjuntos, que reúne sob um só chefe militar os recursos humanos e materiais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, provém dos escritórios de Washington, não de quem vem enfrentando há quase 40 anos uma guerra como a da Colômbia, argumentam os generais substituídos.

A brusca mudança na cúpula militar ocorreu precisamente quando a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, visitava o país, o que foi enfatizado por analistas.

Vicente Torrijos, analista internacional, afirmou que ''para o governo de Bogotá é um bom momento para mostrar a Washington que as Forças Armadas estão se modernizando para atender às demandas do Plano Colômbia'', a maior ofensiva contra as Farc, financiada e desenhada pelos EUA.

Mas a maior crítica foi que a repercussão sobre a crise militar se deu justamente em um momento em que as Farc empreendem duros ataques no Sudoeste do país, uma ofensiva que desde fevereiro já deixou 80 militares mortos.