Título: 'Obrigado Brasil, obrigado Lula', diz Chávez
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Fonte: Jornal do Brasil, 30/04/2005, Internacional, p. A9
Ao agradecer o Brasil e o Chile por terem respondido às críticas da secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, e dizer que os americanos são oprimidos pelo governo, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, encerrou ontem sua visita a Cuba. No mesmo dia, Rice deixou o Chile rumo a El Salvador, o último destino da viagem à América Latina.
- No Brasil, disseram à ''dama imperial'': há que se respeitar a soberania da Venezuela - disse, referindo-se à secretária de Estado. - Obrigado Brasil, obrigado Lula.
Sobre a recomendação do presidente chileno, Ricardo Lagos, para que Rice ''diminuísse a retórica sobre a Venezuela'', Chávez afirmou que Lagos ''pegou um balde de água fria e o jogou na cabeça'' da secretária.
- A política dos EUA de isolar a Venezuela está plenamente derrotada - enfatizou, acrescentando que não visitará os EUA até que os americanos ''libertem'' sua nação.
Chávez e o presidente cubano, Fidel Castro, também ironizaram o fato de serem considerados membros do ''eixo do mal'' pelos EUA.
Durante a visita à ilha, os dois assinaram 49 acordos políticos e econômicos, inclusive um negócio de US$ 412 milhões em produtos do país sul-americano, no qual Havana foi isenta de pagar impostos de importação. Os acordos, segundo eles, seriam o primeiro passo para a concretização da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), projeto que se opõe à economia liberal e à globalização e é uma contraposição à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), promovida pelos EUA.
- A Alca não fez nada ou fez o que devia fazer: desaparecer. A Alba deixará uma marca na história para sempre - comentou Fidel sobre a visita. - É ridículo dizer que estamos desestabilizando outros países da América Latina. Fazer algo bom é desestabilizar? - acrescentou, respondendo a declarações de Rice.
No entanto, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, no Uruguai, considerou que os acordos assinados são apenas tratados bilaterais.
- Nunca foi proposta uma alternativa de acordo econômico que excluísse a Alca. Nem o presidente Chávez, nem Fidel propuseram ao Brasil essa alternativa - afirmou Dirceu.
Em El Salvador, Rice abordará temas de segurança e migração. Já no Chile, no fim da visita, na quinta-feira, ela defendeu uma revisão na Comissão de Direitos Humanos da ONU, criticada por permitir a participação de países com péssimos índices de direitos humanos.