O Globo, n. 32801, 28/05/2023. Mundo, p. 27

Brasil atua em “limpeza” da América Latina há 30 anos

Thays Guimarães


O Brasil não possui minas terrestres em seu território, mas tem um longo histórico de colaboração em operações de desminagem humanitária na América Latina. Nos últimos 30 anos, investiu cerca de US$ 51 milhões em operações na Nicarágua, Honduras, Guatemala, Costa Rica, Suriname, Equador, Peru e Colômbia, tendo enviado quase 300 especialistas do Exército e da Marinha para esses países.

O Brasil também participou das atividades em Angola, entre 1995 e 1997, com 200 militares. Além do intercâmbio na área de defesa, esse tipo de missão é vista pela comunidade internacional como uma ferramenta de diplomacia, cooperação e integração da região.

Na Colômbia, onde a contaminação por minas antipessoal ainda atinge 20% do território, o Brasil participa de três missões: o Grupo de Monitores Interamericanos (GMI), que representa a Junta Interamericana de Defesa da Organização dos Estados Americanos (JID/OEA) e cuida da gestão de qualidade externa e do monitoramento das atividades realizadas pelas organizações de desminagem humanitária militares e civis; o Grupo de Assessores Técnicos Interamericanos (Gati), que atua na capacitação de pessoal das Forças Militares da Colômbia; e a Missão de Instrutores e Assessores em Desminagem Humanitária (Miadh), responsável pela instrução e gestão de qualidade interna junto ao Ministério da Defesa.

Criado em 2006 para auxiliar no Plano Nacional de Desminagem do país, o GMI-Co é chefiado por militares brasileiros desde sua criação, com Marinha e Exército alternando-se no comando a cada dois anos. A gestão atual é do capitão de Mar e Guerra Leonel Mariano da Silva Junior, que assumiu em novembro, com mandato até 2024. Além dele, o grupo é composto por um oficial da Marinha do Brasil, dois oficiais do Exército Brasileiro e um oficial do Exército Mexicano, que exercem a função de monitores.

— Temos uma meta até 2025, de deixar a Colômbia livre de minas, mas os conflitos continuam ameaçando a população e tornam o trabalho muito difícil, porque deve haver segurança para os operadores —afirma o comandante Leonel. — Esperamos continuar a combater esta ameaça para que as pessoas possam plantar nos terrenos e construir as suas casas em áreas livres de minas.

Em 17 anos, o Brasil contribuiu com 122 oficiais para a missão do GMI-Co, que apoiou a certificação de 8 mil militares e civis para a desminagem e hoje monitora um efetivo de 5.500 pessoas, sendo 4.500 militares colombianos.

Já o Gati, que iniciou suas atividades em 2015, surgiu a partir de um Acordo de Cooperação e Assistência Técnica entre a JID e o Comando Geral das Forças (COGFM) da Colômbia firmado para assegurar o cumprimento da gestão de qualidade das operações de desminagem humanitária segundo normas internacionais e nacionais. Atualmente é chefiado pelo tenente-coronel Rômulo Fabiano Pacheco Ravázio, do Exército Brasileiro, e conta também com um oficial da Marinha, que exerce a função de assessor.

Mais recente das três operações, a Miadh surgiu em 2018, a partir de um acordo bilateral entre os Ministérios da Defesa do Brasil e da Colômbia, e hoje é comandada pelo coronel Sérgio Róger Arrais Torres, do Exército Brasileiro. Outros nove brasileiros compõem a equipe, sendo um oficial e três suboficiais da Marinha e quatro oficiais e um suboficial do Exército, que exercem a função de instrutores e assessores. A Colômbia tem sido palco de conflitos armados internos desde a década de 1960, o que lhe rendeu em 2019 o posto de segundo país do mundo com maior número de minas antipessoal, atrás apenas do Afeganistão, segundodados do governo colombiano.