Título: Líderes têm reunião histórica
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 30/04/2005, Internacional, p. A12

Partidos selam aliança para paz e oposição à independência de Taiwan

PEQUIM - Em um encontro que não ocorria há 60 anos, os líderes do Partido Comunista Chinês (PCCh) e do Kuomintang (KMT), formações que se enfrentaram por décadas, acertaram ontem uma aliança de oposição à independência de Taiwan e pelo avanço rumo ao fim das hostilidades. Hu Jintao, secretário-geral do PCCh e chefe de Estado chinês, recebeu o presidente do KMT, Lien Chan, no Grande Palácio do Povo de Pequim. Ambos disseram que o encontro abre ''um novo capítulo'' nas turbulentas relações entre China e Taiwan.

Um acordo entre Hu e Lien que pusesse fim legal à guerra civil (1946-49) era uma possibilidade que já vinha sendo considerada e, embora o acerto de ontem não seja exatamente um armistício, os dois lados se declararam preparados para assinar o tratado histórico.

Hu e Lien também concordaram em discutir no futuro a participação de Taiwan em ''atividades internacionais'' diante da situação atual, na qual a China tenta isolar a ilha e não admite sua entrada em organismos como a Organização Mundial da Saúde (OMS). Falaram ainda em construir ''uma confiança mútua no âmbito militar''.

Até agora, os Exércitos chinês e taiuanês se consideram inimigos e estão envolvidos em uma corrida armamentista devido à possibilidade de uma futura invasão chinesa à ilha de Taiwan.

Todas estas declarações têm um valor mais simbólico do que real, já que o KMT está na oposição desde 2000, embora sua condição de inimigo dos comunistas (os enfrentamentos remontam à década de 20) dê um caráter de reconciliação à reunião de ontem. As partes evitaram se referir à ''China'' e a ''Taiwan'' e utilizaram na maioria das vezes termos como ''os lados do estreito''.

Também destacaram a necessidade de incentivar a relação comercial e agrícola, assim como as comunicações aéreas, marítimas e postais, interrompidas há 56 anos - com exceção dos vôos diretos.

O presidente do KMT destacou que sua visita à China ''deveria ter ocorrido há muito tempo'' e disse que os partidos concordam com a existência de ''uma única China'', embora ''cada parte tenha sua própria interpretação''. O presidente chinês também se mostrou conciliador ao destacar que o governo ''está disposto a tolerar diferenças'' e elogiou a figura de Sun Yat-sen, fundador do KMT e pai da China moderna.

- Sun tinha o sonho de fazer uma grande China e esse sonho se tornou realidade nos dois lados do estreito de Taiwan - ressaltou.