Título: Putin tranquiliza israelenses
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Fonte: Jornal do Brasil, 29/04/2005, Internacional, p. A14
Presidente russo se reúne com Sharon e garante que mísseis vendidos à Síria não alcançam o país
AFP Ariel Sharon e Putin acertaram uma cooperação próxima na luta contra o terrorismo, que inclui troca de informações em tempo real
JERUSALÉM - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, em visita a Israel, tranqüilizou os dirigentes do país sobre a venda de mísseis à Síria e a cooperação nuclear com o Irã, que vinham sendo denunciadas em Jerusalém. Putin também definiu com o premier Ariel Sharon um sistema de cooperação entre os dois países na luta contra o terror. O mecanismo prevê troca de informações em tempo real sobre eventuais ameaças terroristas. A entrega dos mísseis vinha sendo intensamente objetada pelos israelenses:
- O sistema de mísseis que vamos vender à Síria é de curto alcance e não ameaça de forma alguma o território - sustentou Putin após uma reunião com seu colega israelense, Moshe Katzav. A Rússia já anunciou uma próxima entrega de um lote dos mísseis antiaéreos de tipo Strelets a Damasco. O presidente russo, antes da viagem, dissera que o repasse desse arsenal iria evitar ''que os jatos de Israel continuassem a sobrevoar Damasco''.
Putin também se declarou contra o desenvolvimento de armas nucleares pelo Irã.
- Trabalhamos juntos para a utilização do átomo com objetivos pacíficos, e somos contrários a qualquer programa destinado a prover o país de arsenal atômico -, garantiu.
Já uma fonte do governo israelense deu versão diferente. Segundo o funcionário, Putin teria afirmado que os russos perceberam que os iranianos escondiam seus planos nucleares, capazes de ameaçar seus interesses estratégicos assim como o Sul de seu território.
- Moscou se aproximou das posições européias e americanas para tentar frear os iranianos, mas ainda não é suficiente -, prosseguiu o dirigente, que não quis ser identificado.
Sharon vem insistindo há meses sobre a necessidade de levar o caso ao Conselho de Segurança da ONU, para a aplicação de sanções à Teerã caso se recuse a suspender suas atividades nucleares. Teerã garante que seus projetos nucleares têm objetivos exclusivamente civis e diz que o mesmo tratamento deveria ser aplicado a Israel. O país nunca assumiu a existência ou permitiu que seu arsenal nuclear fosse inspecionado, mas analistas afirmam que teria 200 ogivas atômicas.
Por sua vez, os EUA anunciaram a intenção de vender a Israel 100 bombas destinadas a destruir instalações subterrâneas. Não por acaso, boa parte das plantas nucleares iranianas, sobretudo as próximas ao complexo de Temuz, são escavadas sob o solo. Os aiatolás temem um ataque de Israel como o que destruiu o reator nuclear construído por Saddam Hussein no Iraque.
Sharon lembrou a contribuição da então União Soviética à derrota da Alemanha nazista durante a II Guerra.
- Israel e o povo judeu nunca esquecerão o papel desempenhado pela União Soviética na libertação dos campos de concentração nazistas - declarou Sharon.
Acompanhado por Katzav, o presidente russo visitou o memorial de Yad Vashem, dedicado às vítimas do Holocausto. Putin é o primeiro presidente russo a realizar uma visita oficial a Israel desde a criação deste país, em 1948. Hoje deve visitar os territórios palestinos.