O Globo, n. 32799, 26/05/2023. Política, p. 7

Deltan afirma que Lira 'fechou as portas' para ele

Lauriberto Pompeu


Com o mandato de deputado cassado por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos-PR) se queixa de que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem recusado seus contatos para falar sobre o processo, que ainda precisa passar por um trâmite da Mesa da Casa. Deltan afirmou que sente uma “falta de acolhimento” por parte de Lira.

O deputado paranaense, no entanto, disse que tem conversado com outros colegas, incluindo integrantes da Mesa, para reverter a cassação. A perda do mandato também foi tema de uma conversa dele com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber. Deltan ainda pode recorrer à Corte, embora o ambiente seja hostil.

— Eu procurei o presidente da Câmara, mandei mensagem para ele. Minha assessoria tentou agendar uma reunião, mas ele fechou as portas, não responde. Tentei inclusive falar com a chefe de gabinete dele algumas vezes. Ao mesmo tempo que vejo uma falta de acolhimento do presidente da Câmara, eu vejo um amplo acolhimento dos deputados da Casa — disse Deltan ao GLOBO.

Lira determinou que a corregedoria da Câmara analise o caso, mas o procedimento é considerado uma formalidade, e a Mesa deve referendar a perda do mandato. Após a notificação, Deltan tem cinco dias para apresentar sua defesa. Depois disso, o deputado Domingos Neto (PSDCE), que é o corregedor, vai apresentar um parecer à Mesa Diretora, que vai tomar uma decisão.

“Clima de animosidade"

Deltan disse haver um “clima de animosidade” contra ele no meio político por sua atuação como coordenador da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba. O próprio Lira e seu pai, o ex-senador Benedito de Lira, foram investigados e acusados de improbidade administrativa. As ações foram suspensas pelo ministro Gilmar Mendes, do STF.

— A nossa atuação foi profissional, dentro da lei, jamais tratou de algo pessoal. Agora, compreendo que pessoas que são investigadas, tornadas rés em processos, possam se sentir pessoalmente atingidas —disse ele.

O TSE entendeu que, no final de 2021, Deltan pediu para sair do cargo de procurador para evitar uma eventual punição administrativa, que poderia torná-lo inelegível. Havia procedimentos abertos contra ele no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). O deputado cassado ficou conhecido nacionalmente por comandar a força tarefa da Lava-Jato no Paraná.

Deltan afirmou que a reunião com Rosa Weber estava marcada há semanas, antes de ser pautado seu recurso no TSE, e que tinha o objetivo de defender pautas anticorrupção. Ele admite, no entanto, ter tocado no assunto de sua cassação:

— Diante da decisão do TSE, de passagem, eu mencionei e expliquei o que tinha acontecido nesse caso. Agora, o objeto da reunião não era esse. Ela só ouviu. Só apresentei perspectivas sobre o objeto original da reunião e rapidamente apresentei perspectivas sobre essa decisão do TSE.