O Estado de S. Paulo, n. 46617, 05/06/2021. Política, p. A12

Moraes consulta PGR sobre possibilidade de prisão de Salles

Rayssa Motta


O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu manifestação da Procuradoria Geral da República (PGR) sobre a possibilidade de afastamento e prisão do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por obstrução da Justiça na Operação Akuanduba, que apura crimes contra a Administração Pública supostamente praticados por agentes públicos e empresários do ramo madeireiro. O prazo para resposta é de cinco dias.

Moraes despachou após receber notícia de fato, formalizada por uma advogada, indicando que Salles teria ocultado seu celular e alterado o número de telefone no curso das investigações, o que demandaria medidas cautelares para resguardar o andamento do inquérito. O ministro vai ouvir a PGR antes de decidir sobre o pedido.

“(A advogada) alega que, ao ocultar seu celular e mudar o número de telefone no curso das investigações (conforme noticiado no Jornal Nacional), delas tendo ciência, o noticiado, que como ministro tem dever legal de cumprir ordens judiciais de outros Poderes, incorreu, em tese, em tipos penais e de improbidade administrativa, visando obstruir a aplicação da lei penal e embaraçando a investigação de organização criminosa transnacional. Requer, assim, seja decretado o afastamento cautelar do Ministro Ricardo Salles e sua prisão em flagrante, pois continua descumprindo a ordem do STF; subsidiariamente, sua prisão preventiva, por estar ameaçando a colheita de provas e a aplicação da lei penal”, afirma um trecho do despacho assinado ontem.

A investigação da Polícia Federal que atingiu o ministro do Meio Ambiente apura indícios de favorecimento de empresas na exportação ilegal de madeira. Salles também é alvo de um segundo inquérito, conduzido pela ministra Cármen Lúcia, do STF, sob suspeita de obstruir a maior investigação ambiental da Polícia Federal em favor de quadrilhas de madeireiros. O ministro do Meio Ambiente nega irregularidades.

Depoimento. Ao ministro do Supremo, Salles chegou a pedir para prestar depoimento diretamente ao procurador-geral da República, Augusto Aras, na investigação da PF. Moraes não viu impedimento em eventual interrogatório feito pela PGR, mas observou que a Polícia Federal vai colher o depoimento “no decorrer da investigação e a seu critério, na medida em que for necessária à elucidação dos fatos investigados”. / R.M.